domingo, 9 de agosto de 2020

Desmatamento Solidário

 

            Desde a chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, observamos uma acentuada destruição de nossas florestas naturais, sendo a Mata Atlântica e a Amazônia as mais afetadas. Isso era feito visando principalmente interesses capitalistas de comércio, em que abastecíamos com os nossos produtos a nossa metrópole, à época, Portugal. Com o passar do tempo, essa exploração tornou-se ainda mais cobiçada, já que tínhamos um mundo muito mais globalizado, em que as colônias eram peça fundamental para os países dominantes, começando novos ciclos em nosso território, sendo a Mineração um dos principais. Atualmente, em nosso evoluído e conturbado século XXI, observamos uma retomada dessas atividades, sendo agora não mais uma relação de colônia-metrópole, mas sim de dominante-dominado. Em meados de 2020 vemos um desmatamento crescente de aproximadamente 30% em relação aos anos passados. Muitos desses motivos estão relacionados a líderes de governo que tratam com descaso nossa flora, em troca de auxílios internacionais que beneficiam principalmente os grandes empresários.

            Émile Durkheim, sociólogo dos séculos XIX e XX, em seus estudos, abordou temas relacionados a sociedade e os indivíduos que nela exercem suas funções, desempenham seus papéis e vivem de maneira coletiva. Um dos principais fundamentos de Durkheim, colocados em sua própria visão, é a questão acerca da solidariedade em nosso meio social. Esta, que pode ser dividida em mecânica e orgânica, se baseia na ideia da renúncia das vontades individuais para a preponderância das vontades coletivas, fazendo uma modificação nas condutas sociais em prol do benefício de todos.

            Com isso, podemos observar que nos dias de hoje ocorre uma inversão completa das ideias do sociólogo, onde a elite brasileira, minoria, caracterizada por chefes de Estado e pessoas com elevado poder aquisitivo, se abstém da ideia de pensamento coletivo e passa a exercer condutas que trazem benefícios próprios, enquanto a massa populacional se concentra à margem do meio social. O desmatamento na Amazônia se torna um dos principais pontos a ser colocado em questão, já que os locais ocupados serão responsáveis para futuros empreendimentos de empresários brasileiros e estrangeiros, visando somente o lucro destes. Isso é fruto de um longo processo de evolução e amadurecimento do capitalismo, em que o ideal liberal se sobrepõe a qualquer vontade coletiva, e que os detentores do lucro são os principais responsáveis para obtermos uma melhor condição de vida na sociedade em que vivemos. Assim vemos que ocorre uma fuga das ideias de Durkheim no meio político, mas principalmente no meio econômico.

            Portanto, vemos que esses moldes aplicados à política e à economia do Brasil são diametralmente opostos as ideias postas pelo sociólogo, por conta, indubitavelmente, dos líderes políticos atuais. Assim, conseguimos observar não apenas um desmatamento natural, mas também um desmatamento social, provocado pela inversão do ideal solidário de Durkheim, fazendo com que tenhamos não uma adoração ao coletivismo, mas ao fascismo.

               Gustavo Muglia de Souza – Direito matutino

 

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