segunda-feira, 27 de julho de 2020

Progresso ou retrocesso?


No Brasil de 1889 foi instaurada a Primeira República, dando fim ao regime monárquico que perdurou por quase 70 anos, e em poucos dias após a sua proclamação, o lema “Ordem e Progresso” foi inserido na bandeira brasileira. Tal lema foi inspirado na frase “O Amor por princípio, a Ordem por base, o Progresso por fim” de Auguste Comte, um sociólogo positivista, autor de ideais que influenciaram o Brasil naquela época e continuam influenciando até hoje. Para ele, o progresso da sociedade é natural, linear e decorrente da ordem, que seria proteger e defender tudo aquilo que afeta positivamente o meio social.
Esse progresso foi dividido pelo sociólogo em três estados: teológico, metafísico e positivo. No estado teológico, a sociedade ainda acredita na influência de seres sobrenaturais sobre os fenômenos da natureza e os sociais, recorrendo à religião para explicá-los. O estado metafísico seria o abandono das religiões e a busca pela essência das coisas, ainda sem aprofundamento e comprovação científica, para finalmente chegar no último estado, o positivo, que é pautado na ciência e no método científico para entender as leis sociais e naturais, sendo esse o último estágio de evolução da razão humana.
Para Comte, o importante não é entender como acontecem os fenômenos, mas sim a ligação entre eles. Com isso, a análise feita torna-se muito superficial, pois não busca encontrar a essência do fato e o porquê ele ocorre, fazendo com que muitos problemas continuem acontecendo por serem aplicadas apenas medidas paliativas. Um exemplo disso foi a lei seca nos Estados Unidos, que baniu a produção e a venda de bebidas alcóolicas, apenas aumentando o índice de mortes, pois as pessoas buscavam a substância no mercado ilegal, que vendia um álcool mais forte e com a qualidade mais baixa, e o lucro obtido por esse comércio ilegal apenas aumentou o crime organizado e a violência no país. Ou seja, observar o problema do álcool apenas proibindo seu uso piora a situação, pois não considera o todo.
Infelizmente, esse tipo de ação ocorre com frequência no Brasil hoje em dia. O atual presidente Jair Bolsonaro foi eleito com um discurso pautado em violência e imediatismo, como se as ações militares fossem resolver todo o problema da criminalidade no país. Ele não leva em conta o racismo estrutural, a desigualdade social e a corrupção, considera que apenas eliminar os transgressores vai acabar com o problema, vide sua famosa frase “bandido bom é bandido morto”, mas não considera que, enquanto existirem problemas estruturais, mais pessoas buscarão a criminalidade, perpetuando assim a problemática.
Todo esse problema estrutural é decorrente de preconceitos estruturais, como o racismo, que marginaliza a população preta. Infelizmente, a sociedade brasileira apresenta diversos outros preconceitos enraizados, tal qual a homofobia. Um famoso autoproclamado filósofo, Olavo de Carvalho, que era considerado o “guru” do Jair Bolsonaro, escreveu em seu livro “O Imbecil Coletivo” um capítulo chamado “Mentiras Gays”. Nesse capítulo ele apresenta diversos dados deturpados sobre homossexuais, usa o termo “homossexualismo” que, com o sufixo -ismo, denota doença, diz que homossexualidade “é uma opção; a heterossexualidade é um dado”, tornando a orientação sexual de diversas pessoas um mero fetiche e dizendo ainda que ser homossexual é ser egoísta, pois fala apenas pelo desejo de um grupo, enquanto os heterossexuais “falam em nome da espécie humana”.
Conclui-se que assim como a ciência, a humanidade também deve evoluir e progredir, mas esse progresso deve levar em conta todos os indivíduos de uma sociedade, e não apenas uma parcela dela. A estratificação social existe há muito tempo, e isso não é um progresso. Inferiorizar indivíduos, de qualquer forma, é um grande retrocesso. A corrente positivista ajuda a manter essa situação, pois a ampara no argumento de que é algo intrínseco à humanidade, fundamentando assim os discursos de ódio.

Bianca Vipiéski Araújo- 1º Ano - Matutino.

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