domingo, 26 de julho de 2020

O reacionarismo positivo

“Ordem e progresso” este é o lema estampado de modo central em nossa bandeira nacional, fruto da infeliz influência positivista que ainda perpétua em território brasileiro. A ideologia de Auguste Comte, pautada na ordem para a busca de um progresso guiado exclusivamente pelo conhecimento científico simplista, ganhou grande notoriedade a partir do século XIX, principalmente entre a elite europeia, uma vez que, pelo seu princípio de ordem, combateu veemente as transformações sociais impulsionadas por movimentos de caráter liberal como a primavera dos povos. 
Dessa forma, o positivismo se perpetua até os dias atuais como pode ser visto no livro de Olavo de Carvalho, “O Imbecil Coletivo”, que dentre outros absurdos, se propõe a argumentar contra as “mentiras gays”, que segundo o referente autor, seriam as falácias propagadas no discurso homossexual. Da mesma forma que Augusto Comte foi retrógrado às mudanças sociais da época, Olavo de carvalho busca a manutenção da ordem por meio de um pensamento reacionário. 
De modo a legitimar seu posicionamento, o dito filósofo usa de uma argumentação reducionista, característica notória do positivismo. Em certo momento, usando de base o oficial alemão Ernst Röhm, é afirmado que os homossexuais ocupavam uma posição de prestígio na Alemanha Nazista, em uma tentativa de eufemizar a presente perseguição que estes sofrem. No entanto, ou por desinformação, ou pela sua própria escolha, o autor desconsidera as demais variáveis, dado exemplo que o mesmo regime em 1936 criou Escritório Central do Reich para Combate ao Aborto e à Homossexualidade.
No decorrer da leitura do texto, percebe-se novamente a influência da física social comtiana. Em certo trecho, o autor busca apresentar a dicotomia entre héteros e homossexuais baseado-se em um critério de superioridade do grupo heteroafetivo perante a sociedade. Segundo Olavo, pelo fato dos héteros se reproduzirem, estes estariam colaborando para a propagação da humanidade, chegando a dizer que o homossexualismo não passaria de um desejo/opção egoísta. Nesta passagem, vemos o ideal reducionista de progresso positivista, uma vez que, na busca da manutenção da ordem, este desconsidera o progresso social nas relações interpessoais.
Consequentemente, diante de uma argumentação simplista e falaciosa, o positivismo Olaviano conquista muitos seguidores, como o próprio presidente da República Jair Messias Bolsonaro, demonstrando a influência dessa ideologia na contemporaneamente. Por uma lógica positivista, a estratégia de Olavo de Carvalho faz total sentido, visto que a manutenção da dita ordem é muito facilitada diante de uma massa alienada com pouco ou sequer algum senso crítico, denotando assim, o caráter de controle social desta ideologia.

Em um momento de sua obra, Olavo de Carvalho afirma que o ato de colocar héteros e homossexuais em igualdade não passaria de, como nas palavras do autor: “um delírio infantil de onipotência”. Mas, o positivismo, que desde sua origem sob o alicerce de “Ordem e Progresso” combateu os avanços sociais, manipulando os indivíduos a raciocinarem por uma ótica simplista sob a justificativa de sua visão errônea de progresso não seria o verdadeiro delírio infantil de onipotência?

Aluno: Luiz Miguel Morais Navarro.
1° Ano Direito Matutino.

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