sexta-feira, 24 de julho de 2020

A discussão positivista frente a ameaça invisível da Covid-19



Diante da maior crise de saúde pública que afeta em larga escala todo o globo, os estudos do positivismo permanecem atemporais ao se considerar o problemático cenário atual, que envolve paradigmas econômicos, sociais e políticos, além de adequações ao chamado “Novo Normal” estabelecido em readaptações nas relações de trabalho, estudos e hábitos baseados no distanciamento social, pois, assim como defendeu Michel Foucalt: “o novo não está no que é dito, mas no acontecimento de sua volta”. Assim, essa realidade que permeia as relações interpessoais contemporâneas tem criado adaptações inovadoras para, como buscava o sociólogo Augusto Comte, considerado o pai do positivismo, organizar a sociedade de forma a evitar o caos no qual nos vemos mergulhados diante de uma ameaça invisível e mortal, o novo coronavírus.
Desse modo, o desenvolvimento da ciência como alicerce no combate ao vírus para, por exemplo, a criação de vacinas ou até mesmo estudos sobre as formas de contágio e prevenção da doença tem crescido exponencialmente e, segundo a Unicamp, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), já investiu mais de 30 milhões em pesquisas nessa área. Ademais, nesse contexto evidencia-se o conhecimento positivo da qual tratava Comte, em que se prioriza a organização e conhecimento da natureza com base na ciência, pois, assim como defendiam Descartes e Bacon, o conhecimento verdadeiro é fruto da experiência cientifica, opinião difundida pela corrente positivista.
Além disso, a pandemia da Covid-19 tem favorecido o altruísmo entre os indivíduos, prática essencial defendida por Comte, uma vez que, as formas de prevenção da doença vão muito além do cuidado próprio, já que praticar o isolamento social, utilizar máscara em locais públicos e higienizar as mãos constantemente são ações que evitam a propagação da doença e evidenciam a preocupação com o próximo, pois, os cuidados individuais são os passos principais para a proteção coletiva e nos tornam cada vez mais interligados, mesmo que, nesse momento, à distância.
Entretanto, há controvérsias em relação ao pensamento positivista e o cenário atual, uma vez que, a ausência de tratamentos para o combate ao vírus obrigou a maioria dos países a optar pelo isolamento e a suspensão das atividades, o que pode instaurar crises que afetam tanto questões sociais, quanto econômicas e políticas, que poderiam resultar, para Comte, em uma verdadeira anarquia e retrocesso da sociedade. Assim, tem se buscado opções para manter as atividades econômicas  em tempos de distanciamento, como a  adoção do home office, mas que, de acordo com  dados da Revista Nexo, apenas 11% dos empregados realizaram trabalho remoto no Brasil, ou seja, a grande maioria dos trabalhadores estão ser exercer suas funções.
Por isso, ao considerar-se o caso brasileiro, que estampa em seu maior símbolo nacional o lema de Augusto Comte: “Ordem e Progresso”, o retorno das atividades foi uma ação rapidamente considerada - mesmo com os elevados números de casos confirmados da doença e, hoje, a marca de 80 mil vidas perdidas – pois, o trabalho tem espaço privilegiado em uma sociedade que é mantida pela sua força, principalmente em virtude da harmonia social.
Partindo de uma outra análise, os estudos do positivismo serviram como palco para o surgimento de pensamentos como o do brasileiro Olavo de Carvalho, que se utiliza da moral social da qual trata Augusto Comte para fundamentar a questão homoafetiva tratada como uma “privação da capacidade heterossexual” e, portanto, como patológica, defendido em sua obra “O Imbecil Coletivo”, mais especificamente no capítulo “Mentiras Gays”.
Assim, tal moral olaviana vincula-se a funcionalidade do conjunto como acepção da sua manutenção física, não atentando-se ao bem estar coletivo, mas, na realidade, a uma concepção superficial e imediatista, assim como os raciocínios simplistas propagados no atual cenário pandêmico, como a banalização do vírus como uma mera “gripezinha” - pelas palavras do próprio Presidente do Brasil -, que incluem o desrespeito ao uso de máscaras e aglomerações, ou o uso irresponsável da Hidroxicloroquina para a cura da doença, mesmo sem estudos científicos comprobatórios, no qual segue o negacionismo defendido por Olavo.
Por fim, é valido a análise do viés positivista no atual cenário da pandemia do novo coronavírus, mesmo depois de dois séculos do surgimento dessa corrente filosófica, uma vez que, como defendeu Augusto Comte: “o progresso é a lei da história da humanidade, e o homem está em constante processo de evolução”.

Referências:

VELLOSO, L. A. A contribuição da ciência na pandemia de Covid-19. Unicamp, 2020. Disponível em: <https://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2020/04/02/contribuicao-da-ciencia-na-pandemia-de-covid-19>. Acesso em: 20 de jul. de 2020.

SOUZA, C.; ZANLORENSSI, G. O home office no Brasil durante a pandemia de Covid-19. Revista Nexo, 2020. Disponível em: <https://www.nexojornal.com.br/grafico/2020/07/16/O-home-office-no-Brasil-durante-a-pandemia-de-covid-19>. Acesso em: 20 de jul. de 2020.



Ana Carolina de Campos Ribeiro – 1º ano Direito matutino

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