segunda-feira, 20 de abril de 2020

A difusão do saber e o negacionismo constante

Desde sua concepção, o ser humano anda em constante busca pelo conhecimento do mundo no qual está inserido. Por muito tempo, o saber permaneceu restrito a uma casta exclusiva da população- vide a Idade Média, onde os nobres e o clero detinham o monopólio do conhecimento não oral. Já no século XV, uma “pequena” dose de novidade abala o mundo ocidental: a prensa de Gutenberg, com sua forma pré-histórica de impressão em papel, revoluciona a disseminação do conhecimento na sociedade. Nunca tinha sido tão fácil para se ter o saber em mãos. Pronto, estava traçado um futuro próspero para a democratização e propagação da ciência ao redor deste planeta. Nos anos 2000, cerca de 600 anos após o feito de Gutenberg, toda a gente já estaria plenamente elucidada acerca do meio em que está imersa. Bem… não foi bem assim que os fatos se deram.

Tomemos como exemplo líderes como Trump e Bolsonaro: que semelhança poderiam ter com um típico camponês do período feudal? Certamente o iletramento e a inacessibilidade de um aprendizado empírico não figuram entre elas. Em um mundo onde se pode ter acesso a artigos científicos com apenas um clique, que fator os levaria então a confrontar os dizeres da ciência e pesquisadores sobre um vírus tão potencialmente destrutivo como o Covid-19? Seria a ignorância ou interesses eleitorais?

Independente da resposta para o questionamento acima, o fato é que, se a postura de hostilidade dessas figuras à ciência se manter imutável, as consequências serão trágicas. No Brasil, por exemplo, as mortes pelo novo coronavírus já passam de 2.500, sem mencionar outros 40 mil casos confirmados. É um consenso entre especialistas que a adoção de um regime de isolamento social é a melhor medida para fazer frente a uma epidemia. A Itália, que resistiu a essa medida, temendo danos econômicos, já soma mais de 24 mil óbitos e quase 200 mil contaminações, levando a uma sobrecarga do sistema de saúde. Nos Estados Unidos, onde Trump costumava amenizar a necessidade de limitar aglomerações, a quantidade de casos já se aproxima de 1 milhão, fazendo do país o novo epicentro da doença. Certamente a imposição, de imediato, de uma quarentena nesses países teria saído mais barato que os impactos econômicos que agora virão.

O Brasil tem potencial para seguir o mesmo caminho das duas nações mencionadas: conforme e o presidente e seus apoiadores encorajam o fim de restrições sociais e espalham “fake news” sobre o vírus, a taxa de isolamento tende a cair, abrindo espaço para a contaminação maciça da população e saturação do frágil sistema de saúde nacional. Também, um abalo ao estado democrático de direito e à separação e autonomia dos 3 poderes é outro desdobramento, no campo político, passível de ocorrer em razão de uma retórica agressiva do presidente que agrava o já polarizado cenário político brasileiro, na medida em que se choca com políticos favoráveis à adoção da quarentena.

Por fim, parece bastante contraditório que em uma época marcada pelo grande fluxo de informações existam indivíduos que, mesmo tendo acesso ao conhecimento científico, preferem simplesmente negá-lo, sem qualquer motivo concreto. Talvez, se Gutenberg estivesse vivo hoje ele poderia pensar que sua criação parece não ser o suficiente para levar o conhecimento a todos, afinal aparenta haver uma barreira que ainda impede a assimilação da ciência- e o valor a se pagar pode, muitas vezes, ser bastante oneroso.

Fábio Eduardo Belavenuto Silva- Matutino- 1º ano de Direito

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