domingo, 8 de março de 2020

O domínio da natureza em cheque


O filósofo inglês Francis Bacon (1561- 1626), conhecido também como “Pai do método experimental”, foi um grande defensor do empirismo nos estudos científicos. Em busca de criar um “verdadeiro e extraordinário progresso do saber” e reformar o conhecimento humano escreveu o “Novum Organum”, onde expõe seu método. Devido sua forma de construir o pensamento, era extremamente contra os filósofos clássicos, classificando a filosofia aristotélica como estéril quanto a resultados práticos para vida do homem.
Assim, o verdadeiro filósofo natural, para Bacon, deveria acumular sistematicamente o conhecimento, sendo este ativo e prático. Bem diferente do antigo conhecimento filosófico que baseava-se na observação obediente da natureza. Essa forma baconiana de pensar deve-se ao fato de o filósofo ter vivido em um período pré revolução industrial, onde ideias inovadoras e tecnológicas circulavam pela Inglaterra, incentivando maior participação ativa na natureza. Portanto, a euforia industrial do momento reflete-se em uma de suas teorias mais conhecidas, “Saber é poder”, sendo o saber a melhor forma de conquistar a natureza, assim deixa de ser apenas um objeto de contemplação e começa a servir o homem. Essa ideia foi usada durante décadas, porém começa a trazer consequências ambientais na contemporaneidade.
Um exemplo brasileiro acerca do assunto é a expansão da fronteira agrícola e pecuária para floresta amazônica. Esse processo se intensificou em 2019 com intensas queimadas na região, onde apesar de prejudicial a terra, a técnica é frequentemente utilizada para limpar áreas desmatadas e torná-las agricultáveis. Ainda que usual, o método traz diversos problemas ambientais, como diminuição da biodiversidade e destruição da reserva de carbono. Esse comportamento irracional é resultado da falta de questionamento sobre as possíveis consequências práticas do uso inadequado da natureza, sendo a aplicação rigorosa do método de Descartes, como a dúvida e revisão entre as relações metódicas, uma maneira de corrigir essa situação.
Portanto, o avanço humano sem o devido planejamento da utilização dos recursos naturais provoca danos irreparáveis ao meio ambiente, causando grandes problemas às futuras gerações. Assim sendo, a icônica frase “Saber é poder” e a antiga euforia industrial devem dar lugar ao racionalismo ambiental do século XXI, revelando que o verdadeiro saber não se baseia pela conquista da natureza e sim pela colaboração harmoniosa entre o Homem e o meio natural.



Beatriz Adas Olacyr - 1º de Direito - Matutino

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