segunda-feira, 9 de março de 2020

Dos extremismos às paixões

De maneira pouco combatida, atualmente, o labor da mente, por ser instrumento intrínseco ao pensar, apesar de perigoso, é utilizado para que, a partir do senso comum, edifique-se um falso conceito de saber, de ciência, que foge do racional e resvala em paixões.
O labor mental, difundido em ampla escala como provedor de saber e as divagações do pensamento, regadas a falsas concepções de um saber profundo,  vão contra a racionalidade, pregada por Descartes em seu livro “Discurso do método”, visto que esta deve se afastar de convicções individuais para que se atinja o encontro pleno da “vontade do mundo”, da verdade, que vai contra as influencias sofridas por uma mente que divaga mais do que sabe, mais ligada às paixões do que à razão.
À medida que se extrema  pensamentos, mais difícil torna-se a construção da razão, visto que a polarização ideológica é retroalimentada pela perda do pensamento crítico que ajudará, por sua vez, a alimentar, também, o senso comum, instrumento necessário para que ideais extremistas se alastrem.
Os preconceitos, como por exemplo a xenofobia e o racismo, como ideias extremas, são pensamentos fracamente fundamentados por indivíduos que pouco se pautam na racionalidade, ao mesmo tempo que deixam se influenciar por “ídolos”, assim chamados por Francis Bacon. Apesar de serem injustificáveis, os preconceitos encontram terreno fértil para se espalharem, pois estão ligados a emoção humana, a algo que não se explica com razão, porém, por ser parte do senso comum, por não ser necessário que se utilize algum método rigoroso e trabalhoso para que se entenda seus fundamentos, tornam-se presentes em massa na mentalidade da sociedade que encontra-se fracamente amparada pela racionalidade e pela vontade em se entender o pensamento racional.
A ciência, tanto para Bacon, quanto para Descartes, deve ser pensada em prol do engrandecimento e emancipação humanas  para que se possa ser considerada racional, portanto, ao analisarmos as visões polarizadas atuais, observamos que estas nada contribuem para um pensamento emancipatório, não se relacionam a ciência pregada pelos pensadores em pauta. Essas, tentam fortemente se segurar em um anseio coletivo pautado em ídolos baconianos que abre vácuos propícios para que surjam figuras oportunistas que se amparam na disseminação do senso comum, pelos veículos midiáticos que atingem grandes massas,  senso comum este que é facilmente engolido pelos indivíduos, pois, de certa forma já está enraizado no âmago coletivo, por não ter sido contestado e sido naturalizado desde sempre, por ser pautado em paixões irracionais, porém fortes e destrutivas.

João Henrique Parreira- Direito Diurno

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