segunda-feira, 9 de março de 2020

A escassa e improdutiva comunicação dos partidos de esquerda com a população.

Na era da pós-verdade, em que indivíduos passam a aceitar verdades alternativas e ignoram fatos e argumentos, é essencial o retorno aos pensadores que auxiliaram na construção do pensamento científico para um exercício de reflexão empírica-racional sobre a atualidade e o que esses autores têm a dizer como auxílio para esse tempo moderno. A partir disso, é inegável a realidade da exígua comunicação dos partidos de esquerda com a população brasileira como um todo, haja vista a hermeticidade que indivíduos se colocam com a pós-verdade, e, dessa forma, dificultando uma comunicação racional e intelectualmente honesta. 
Em 1620, Francis Bacon, com sua obra Novum Organum, constatava problemas os quais são presentes até os dias de hoje. A partir de seus aforismos, é importante destacar a imprescindibilidade da tentativa de tentar novos meios para a resolução de problemas quando o atual método empregado já não engendra mais resultados. Ou seja, isso é evidenciado nos métodos empregados pelos atores políticos da esquerda para realizar proselitismo político de forma a angariar capital político para si. Ao passo que os partidos de direita, principalmente os que pertencem ao exterior do espectro político democrata - a extrema direita - esse proselitismo é mais eficiente, visto que o seu potencial de aliciação é preocupante e cada vez mais forte, pois segundo a pesquisa da Veja de fevereiro o presidente havia 50% de aprovação entre os eleitores brasileiros. Se a esquerda se propõe a ser oposição, não basta apenas exercer sua influência política, cuja influição não expande os horizontes dessa ala oposta à ala política do presidente. É necessário ir além, modificar o discurso, entender as necessidade do povo e, principalmente, o porquê de pensarem assim de modo extremado, muitas vezes não conscientemente  devido a acreditarem que pensar dessa maneira resolverá as suas necessidade individuais que não estão sendo supridas no cotidiano. Dessa forma, demonstrando a importância de novos meios de aproximação com a população. Francis Bacon também acreditava que a forma com que o discurso é empregado é fundamental para o fim que se propõe, ou seja, as palavras que compõem as falas e os textos se empregadas de forma incoerente, descontextualizadas e sem precisão podem bloquear o intelecto humano, sendo, em algumas circunstâncias, irreparável. Assim, pode-se levar pessoas a inúteis controvérsias e fantasias. Isso é evidente, majoritariamente, nos meios de comunicação digitais, em alguns discursos, ao utilizarem palavras “proibidas” - como “socialismo”, “comunismo”, “imperialismo norte-americano”- muitas pessoas, automaticamente, bloqueam a mensagem do interlocutor. Muitos acreditam se tratar de situações banais, porém não são, justamente, pelo fato de a vasta maioria dos brasileiros possuem formação deficitária, são expostos a inúmeras campanhas de arruinação de reputação e com a mente arraigada pela polarização são os que têm o poder de mudança política com seus votos individuais. Urge que se pense formas de acessar esse contingente populacional - embora essas pessoas necessitem aprender sobre os conceitos ao invés de negá-los, primeiramente, precisam ser alcançados para consecutivamente serem educadas - o qual por ser incutido por sucessivas campanhas de difamação contra pautas da esquerdas, é automaticamente contras a esses pensamentos políticos progressistas. 
Os discursos, todavia, não são suficientes para mudanças concretas. Descartes, já em 1637 com seu livro sobre o Discurso sobre o Método, já discorria sobre essa realidade. Ele apregoava que os costumes o os hábitos persuadem muito mais do que qualquer conhecimento certo. Ou seja, é evidente que isso funciona, uma vez que é certo que o atual presidente se elegeu sem proferir qualquer conhecimento certo, e sim com atitudes que exemplificam para o brasileiro médio como se portar, falar e agir. Por exemplo, quando o mandatário máximo do executivo se exime de qualquer crítica a um motim policial, ele coaduna com o motim e exemplifica aos amotinados que essas decisão é acertada. Quando ele sinaliza, através de um tripé, balear a oposição, está demonstrando para a população que não há adversário político, e sim inimigo político, e, dessa forma, eliminando qualquer diálogo entre as diversas ideologias, pois a mensagem para o povo mais simples é que a violência é superior ao diálogo. Ademais, quando, em situação de presidenciável, ausentou-se, propositalmente, dos debates de propostas entre os candidatos à presidência, ele reafirma o que foi dito anteriormente, que não é necessário conversação e, sim, imposição. 
A organização partidária entre os componentes da esquerda também é de suma importância, o que não ocorre no Brasil, haja vista a fragmentação política desse grupo. Bacon preconizava sobre a tendência humana em se enviesar quando se anui com uma convicção e, assim, arrastar tudo para seu apoio e acordo. Isto é, a recorrente ação das pessoas em querer impor sua visão a todo custo, mesmo quando essa visão não passa de uma crença e não uma realidade. Ademais, o autor também cita outro problema evidente nas organizações atuais: que é o fato do acometimento de muitas extravagâncias advém da própria obtusidade, incompetência e falácias dos sentidos, provocando digladiação entre esses entes partidários por diversidade opinativa, a qual ocorre conforme o enunciado por Descartes: a multiplicidade de opiniões ocorre, justamente, por cada indivíduo nunca levar as mesmas coisas em consideração e optar por caminhos diferentes, e não por uns serem mais razoáveis do que outros. Ou seja, a arrogância e a apatia levam a conflitos improdutivos.
Logo, para se efetivar, ao menos como tentativa, a criação de pontes e diálogos com a maioria do povo e mostrar-lhes melhores alternativas, não se pode prescindir do entendimento do atual contexto social e político pelos quais o país perpassa. Embora seja um momento complexo, apoiar-se nos pensadores do presente e do passado colabora com a criação de soluções. O próprio René Descartes afirmava que a “leitura dos bons livros é o mesmo que conversar com as pessoas mais honestas dos séculos passados, com os seus autores e mesmo uma palestra estudada em que estes nos apresentam os seus mais elevados pensamentos.”. Com isso, é também necessário inserir nesse raciocínio a importância de se pensar de forma moderada, afastado de todo extremismo, para assim resolver os conflitos da sociedade como um todo, e não de forma setorial. Portanto, são esses alguns pensamentos que René Descartes e Francis Bacon têm a oferecer nessa conjuntura sócio-política, a qual pode ser analisada e evidenciada com o cotidiano.

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