segunda-feira, 9 de março de 2020

A desvalorização da verdade.

O saber concreto sempre foi desejo de domínio da humanidade. Desde a Grécia Antiga, quando deixamos de buscar justificativas mitológicas, o homem exercita a sua razão para compreender os fenômenos naturais e se desenvolver. Todavia, observa-se no mundo contemporâneo uma onda de rejeição ao pensamento técnico e uma oposição à produção de conhecimento científico -em especial o universitário.
Outrora, o embate entre Sócrates e os sofistas na Grécia Antiga já indicava que a busca pelo conhecimento verossímil não ficaria restrito ao campo da eloquência e do raciocínio ativo, mas que era necessário aplicar métodos que tornassem possível o acesso ao saber não apenas indubitável, mas alicerçado em argumentos científicos tão sólidos que fosse irrefutável. Para tal, a dialética socrática, método de Sócrates para obter a verdade, demonstrou que o saber pleno é um produto do questionamento. 
Ademais, com o desenvolver dos tempos, outras mentes significativas explanaram seus pensamentos acerca da distinção do que é deveras real ou ilusório, como Descartes e seu livro "O Discurso do Método". O filósofo propõe que a nossa razão tem competência de distinguir o que é ou não real, pois ela não pode ser manipulada. Descartes, em suma, sugere que os produtos de nossos sentidos -conforme o empirismo- devem ser analisados racionalmente para, posteriormente, serem julgados como verídicos ou não, originando o racionalismo. 
Paralelamente, o filme Matrix, de 1999, por exemplo, ilustra o pensamento cartesiano ao propor que vivemos em uma realidade manipulada pelos nossos sentidos de acordo com interesses de terceiros -as máquinas revolucionárias. Mas, embora o enredo pareça utópico, é importante considerar que há diversos exemplos históricos de quando grupos sociais agiram sem considerar a validade científica de argumentos, como: para convencer nos debates,  os sofistas se deleitavam com a oratória e não com a verdade; o nazifascismo e o "fardo do homem branco" tentaram extinguir outros povos sem argumentos concretos; religiões e crenças torturavam e queimavam pessoas vivas na Europa medieval baseados apenas em hipóteses e mitologia.
Por outro lado, após tantos eventos históricos marcantes demonstrarem a necessidade de comprovar a veracidade de uma informação antes de creditar a confiança nela, a sociedade pós moderna demonstra um comportamento divergente ao desacreditar do que é cientificamente comprovado para crer em teorias  conspiratórias divulgadas pelas inovadoras fake news, como a terraplanista. Este cenário cético e rebelde cria embaraços para o progresso científico, visto que a produção de conhecimento se concentra em especial nas universidades públicas, as quais, por serem dependentes do Estado, estão perdendo recursos. 
Visto isto, é preocupante observar que o conhecimento, tão perseguido anteriormente, hoje não é valorizado. O conhecimento traz poder, mas a ignorância social pode mantê-lo. 

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