segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A propagação de heranças coloniais


Em 2017 o STF, por 6 votos a 5, decidiu que o ensino religioso ensinado em escolas públicas pode ser confessional, que é, ele pode promover crenças específicas. A partir dessa decisão várias opiniões divergentes começaram a surgir, como por exemplo sobre a laicidade do Estado, como um Estado que se declara laico pode direcionar os alunos para uma religião. Assim como diz Celso de Mello: “Ninguém pode ser coagido a fazer parte de associação religiosa. Ninguém pode ser perguntado, indagado por qualquer autoridade acerca das suas convicções ou prática religiosa, nem ser prejudicado por se recusar a responder. Ninguém é obrigado a indicar sua religião. Ninguém pode ser obrigado a prestar juramento religioso. Nesta República laica, o direito não se submete à religião”.
É inaceitável que em um Estado laico numa perspectiva teoricamente de progresso seja aceita uma educação confessional, pois deve caber ao aluno, como indivíduo consciente, conhecer uma variedade de religiões e escolher a que lhe parece mais adequada, com o ensino confessional corre o risco de haver uma doutrinação, já que desde de criança o indivíduo vai conhecer apenas sobre uma religião e tomar aquilo como sua, mesmo que não se identifique, pois não conhecendo outras crenças se torna difícil questionar e perceber se aquilo é o correto.
Outra constatação que deve ser feita, é a forma como catolicismo vai se mostrar hegemônico em todos os ensinos religiosos de escolas públicas, mostrando uma certa imposição de religião que o Brasil carrega desde a colonização, exemplificando como a hegemonia europeia ainda permanece forte no país, e ao mesmo tempo que o catolicismo é protagonista nesse cenário, religiões de outras matrizes, de países que sempre foram inferiorizados na história pelo resto do mundo, caem totalmente no esquecimento e nem sequer são citadas, reduzindo o leque de diversidade para alunos que estão conhecendo agora o que é religião.
Como muito bem falado por Boaventura de Sousa Santos os fatores culturais que adotamos como nosso, como por exemplo a religião católica que é predominante no Brasil, não são realmente nossas, são uma imposição de países que foram bem-sucedidos no passado e criaram uma certa influência no mundo impondo sua cultura para países que não estavam na mesma condição, como o Brasil que carrega fortemente até hoje tradições coloniais e insisti em não se livrar delas, mas sim continuar com a propagação, e um ótimo exemplo disso é o ensino confessional em escolas públicas do país.



Isabella Stevanato Frolini
Noturno

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