segunda-feira, 10 de junho de 2019

What a Wonderful World


    Weber, que passou tempos procurando compreender a sociedade moderna, não poderia ter se deparado com um termo melhor que “desencantamento”. Mesmo que, na maioria das vezes, ele não o use no mesmo sentido melancólico que Fernando Pessoa ou Alphonsus de Guimaraens usaria. Analisando China, metáfora de seu jardim encantado, não foi muito diferente do que alcançado pelo Ocidente; se as crenças faziam os chineses crerem que o imperador comandava as chuvas, a exemplo brasileiro, um presidente se elegeu com seu “Deus acima de todos”.
     Na análise de Weber, as religiões chinesas propagam uma imagem mágica de mundo inserindo os seus adeptos num jardim encantado; de forma não muito diferente, a Indústria Cultural vende uma cultura a qual acredita-se cegamente. O Ocidente, que provou do “direito natural”, como disse Weber, no final das contas, não é muito diferente assim. “As peculiaridades formais fundamentais do específico tipo de justiça ocidental moderno, nascido sobre a base dessas criações de direito racionais e sistemáticas, precisamente em consequência do desenvolvimento mais recente, de modo algum são inequívocas”. Talvez.
    A violência legitimada pelo direito que sustenta não só o Estado, mas tudo o que conhecemos como ordem na sociedade, é uma violência bonita- no sentido em que confiamos na necessidade que tem, seja isso verdade ou não. “Quando e por que os homens obedecem?” além de legitima é bem-apessoada, é esta que trará a justiça, mesmo ainda sem saber exatamente o que é. Moldam através da indução, moldam através da força, das obrigações, do encarceramento em massa, definem padrões e anomalias- contanto que respeitem a ordem das engrenagens econômicas, políticas e sociais- ainda que caloteada e baralhada, ainda há regularidades para seguir e manter, no final do dia, I think to myself, what a wonderful world.



Amanda Cristina da Silva - 1º Direito Noturno 

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