sábado, 8 de junho de 2019

Rico: rico em quê?

Enrico era o pai de Rico,
o último, de rico pouco tinha
o primeiro, rico em vida
Enrico era faxineiro
Rico, homem de negócios

Enrico andava de bolso vazio
cabeça cheia de sonhos:
uma casa, filhos formados,
descanso e paz no fim do dia
a vida sempre seguia

Rico tinha a carteira pesada
tanto quanto pesavam suas preocupações
“o que fazer com os filhos?”
a vida sempre tão travada,
só mudando onde não precisava

Enrico visualizava os anos seguintes
planejava, poupava
recebia e pagava
vivia na simplicidade
dispensava requintes

Rico do futuro nada concebia
emprego mudava
cidade também
medos cresciam mais e mais
sábio  seria acumular mais um pouco

não vejo mais “Enricos” entre nós
viver apenas o hoje não dá mais
moldar o tempo que vem depois, inútil
no mundo tomado pela efemeridade
entregamo-nos como a uma enfermidade

"Ricos" somos nós
mas ricos em nada somos
dinheiro, viagem e tecnologia
o que realmente importa já não está de pé
ficou no século passado, com Enrico

DERIVA: Sennett só quis nos dizer que
ainda é preciso respirar.

Marco Alexandre Pacheco da Fonseca Filho - 1ºano Direito Matutino
Publicação baseada no texto da aula 10: Richard Sennett, "A corrosão do caráter" - cap.1 ("Deriva")

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