domingo, 9 de junho de 2019

A (falta de) autonomia do Direito na modernidade


Sob a ótica weberiana do conceito de cultura, é possível entender como a economia, cerne do sistema capitalista, exerce influência na vida dos indivíduos, em suas relações sociais e, consequentemente, naquilo que é a forma de dominação legítima da sociedade, o Direito.
Em sua obra “Economia e sociedade”, Weber faz uma análise do direito comercial, que levou a questão dos interesses materiais para o formal; além de também apontar dois aspectos irracionais do direito aplicado na Inglaterra, que favoreceram o desenvolvimento do capitalismo, sendo eles: a questão de que “a formação do direito estava principalmente nas mãos dos advogados, de cujo meio se recrutavam os juízes – isto é, nas mãos de uma camada que se coloca a serviço dos interesses dos abastados, e materialmente vive direto deles” e o imenso custo que chegavam, de fato, muito perto de negar a justiça aos menos abastados.
Sendo o Direito regido por seres humanos, na maioria das vezes, juízes “bocas da lei”, individualistas e gananciosos, é possível observar, em um contexto recente, mais especificamente, no neoliberalismo, a forma como o Direito está indexado, de maneira predatória, na atividade econômica, quando deveria ocorrer o contrário, ou seja, o Direito que deveria reger a economia bem como rege a sociedade. Sendo assim, há, consequentemente, a submissão da sociedade em relação à economia.
Nessa realidade, presente também no Brasil, há uma dificuldade enorme de se implementar direitos sociais e de se conseguir a autonomia do Direito, coisas que deveriam ser buscadas pelos juristas, através da hermenêutica e de jurisdições que visasse a verdadeira justiça e o bem daqueles que são oprimidos pelo sistema. Destarte, a liberdade, igualdade, dignidade, direito à justiça e até à vida, entre outros presentes na Constituição, ficam apenas no papel.
A vida humana se torna apenas mais um número, que deve contribuir de maneira economicamente ativa para a sociedade. O trabalho sobrecarrega os indivíduos, que buscam enriquecer materialmente, e levam isso como objetivo de vida, para que tenham status e sejam socialmente valorizados. Vidas são perdidas em combates travados por um pedaço de terra, inutilizado dentro da propriedade privada, e o Direito, que deveria amparar as vítimas desse sistema, os condenam por não estarem dentro da forma da lei.
A cultura que cultivamos leva os menos abastados para o limite da dignidade humana e da justiça, e sem a autonomia do Direito em relação ao sistema, as leis apenas os empurram para fora.


Daiana Li Zhao - Direito Matutino - 1º ano

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