domingo, 26 de maio de 2019

Torre de Marfim


Muito se fala sobre o atual momento social e político brasileiro. Questionamos qual foram os caminhos que nos conduziram a essa realidade e culpamos uns aos outros, atribuindo essa responsabilidade ou à perigosíssima ameaça comunista que assola nosso país, ou à massa fascista que se tornou o Brasil.  Ambos errados. Uma análise marxista, baseada no materialismo histórico e dialético nos mostra, contraditoriamente, a grande falha da esquerda brasileira.
Tal segmento da sociedade aparenta ter se fechado em uma torre de marfim de reflexões que possuem um caráter apenas teórico, se esquecendo da parte material do pensamento de Marx: buscar entender a sociedade por ela de fato e aplicar esses conhecimentos. A esquerda brasileira se tornou uma briga de egos e teorização na qual uns tentam ser melhores, mais marxistas do que outros, e se esquecem que, pela raiz desse pensamento, devem melhorar as condições de vida do trabalhador e, por consequência, da sociedade.
Sob essa ótica, devemos fazer uma análise histórica dos 16 anos do PT no poder, sendo o segundo mandato do ex-presidente Lula e o primeiro de Dilma pontos chave desse processo. Eleito em 2002 com aproximadamente 61% dos votos válidos, Lula trouxe a esperança de mudanças e melhorias para a população brasileira, principalmente entre a mais pobre, como de fato aconteceu. Houve uma expansão do acesso às universidades públicas, tornando-as mais diversas, com uma grande variedade de classes sociais. Toda essa realidade era extremamente positiva; entretanto, também foi o início do problema: criou-se uma forte tendência academicista nas discussões da esquerda, afastando, cada vez mais, esse alinhamento político da ascendente classe média baixa que passou a voltar-se para ideologias que pregam, por exemplo, a meritocracia.
O contraditório distanciamento com aquele que talvez seja o maior expoente da esquerda se mostrou extremamente prejudicial, “um tiro no pé” para esse segmento. O movimento “Vira voto” que ocorreu às vésperas do segundo turno das eleições de 2018, entretanto, representou um início de modificação dessa tendência, mostrando que a esquerda, aparentemente, começa a se retirar do pedestal em que se colocou.


Julia Parreira Duarte Garcia - Direito Matutino

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