segunda-feira, 27 de maio de 2019

O poder do tempo: o impasse entre a libertação e a submissão.


            Considerando os textos de Marx e Engels, é possível perceber que o advento de novos meios de produção – Revolução Industrial – também fizeram insurgir novas e maiores formas de exploração, centradas na mais-valia, definida como: “(...) a exploração do operário que dele se deriva, tinham a (...) apropriação de trabalho não pago (...)” (MARX & ENGELS). Dessa forma, era feita uma racionalização do tempo do proletariado, bem como uma normatização da vida a partir das instituições sociais, garantindo uma permanência do modelo capitalista e inexistência de protestos.
            A princípio, é preciso considerar que a burguesia sempre teve algo que o proletariado nunca teve: tempo. Tempo ocioso que lhe permitia descansar, pensar na condição de vida, filosofar, ter lazer e afins. A classe proletária só conseguia algum tempo através da racionalização: “Jaula de Ferro”, termo usado por Weber para definir essa estrutura burocrática de racionalização temporal. Contudo, isso demandava uma autodisciplina e, ainda assim, não era uma quantia exorbitante, nada que pudesse fazer o sistema romper e implodir, muito menos sem a existência de uma educação que os liberte e faça compreender o sistema como um todo.
            Não obstante, nota-se uma normatização das humilhações e repressões sofridas para que o proletário não proteste. Na obra “A corrosão do caráter”, de Richard Sennet, é demonstrado, por meio da figura de Enrico, o qual aceitava sua exploração e o tratamento por considerar que “merecia”. Além disso, a presença da Igreja e da Família, enquanto instituições sociais, fortaleciam o “corpo dócil” de Enrico a aceitar sua condição. A temporalidade do personagem era movida apenas por prestações de casa e bens materiais, o que criava uma ilusão de respeito próprio. Isso contribui para o assentamento de uma hierarquia de exploração, sem questionamento, na crença de uma recompensa em uma “vida futura” – no caso da Igreja.
Portanto, a dialética que alterou os moldes do feudalismo e adaptou-se ao capitalismo é a mesma que modifica e mantém a condição de oprimido e opressor, alterando somente as classes – agora para a dualidade da burguesia e do proletariado. Desse modo, o capitalismo cria raízes estruturais que condiciona a população a aceitar as “regras do jogo”, tornando-se apenas mais uma engrenagem do sistema. Por isso a importância do tempo, aliado à educação, pode fazê-los romper com as amarras do capitalismo, pois Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor - Paulo Freire.

Bianca de Faria Cintra - Direito Noturno, 1º Ano.

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