domingo, 5 de maio de 2019

Durkheim e alguns questionamentos


Perguntas durkheimianas e respostas de um qualquer "cidadão de bem":

-Durkheim diz que a sociedade antecede o indivíduo, que ela é equilíbrio e coesão , mas e quando ela é opressão e punição?    "Tem que apodrecer na cadeia, matar!"
-O Direito deseja manter o controle sobre a sociedade, mas o que fazer quando ele reprimir e julgar erroneamente um indivíduo, sem a menor sensibilidade?    "Foi só uma confusão.."
-Se a sociedade é como um corpo humano (organicismo), qual a perspectiva do funcionalismo?   "Tem que defender a família, a moral e os bons costumes!’’
-A solidariedade é a expressão da interdependência, da harmonia geral, mas desde quando um indigente é considerado uma célula disfuncional?    "Preguiçoso! vai trabalhar!’’
-A função de uma pena  é acalmar a consciência coletiva, dar a sensação de um corpo social protegido e aliviado, mas como explicar a "justiça com as próprias mãos" no caso de um linchamento equivocado?   "Mas eu vi no Facebook.."
  
   Durkheim se enganou ao pensar que a consciência coletiva, comportamento influenciado principalmente pela religião, sumiria com o fim da sociedade pré-moderna, na qual predominava o "conhecimento revelado", que não precisava ser questionado. Hoje, basta ligar a tv e em qualquer telejornal para visualizar algumas práticas de justiçamento na realidade brasileira, e como esse comportamento está sendo neutralizado e banalizado; uma espécie de justiça primitiva e opressiva, sem parâmetro algum.
   
   A ideia de que todas as ações estão vinculadas funcionalmente (noção de causa eficiente) é, para Durkheim, análogo ao corpo humano, e o Direito e as suas diversas funções é um componente da sociedade, que atua como um sistema nervoso, modelando as condutas e papéis dos indivíduos. Prevalece a solidariedade orgânica na sociedade atual, ou seja, o "fazer" por causa da organicidade, uma doação em prol do coletivo e uma negação pessoal em consequência. Os indivíduos são movidos por ideologias e os comportamentos são sociais e não individuais .
     
   O Direito moderno propõe ser restitutivo e menos punitivo, não quer eliminar os indivíduos "disfuncionais" (que subverteram a ordem), quer restituí-los na dinâmica da solidariedade, sendo assim menos punição e mais técnica. Esse indivíduo não é um elemento da anomia –a qual para Durkheim deve ser evitada-, ele fortalece a sociedade, e não a desagrega.  É preciso que o Direito seja uma ferramenta de mudança social e emancipação, que atua de forma humanizada e visa garantir o bem estar social e a plena democracia aos cidadãos. Dessa forma, grandes avanços sociais serão alcançados, mantendo a organicidade e harmonia de Durkheim.

Raquel Colózio Zanardi – primeiro ano - Direito matutino

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