domingo, 26 de maio de 2019

Como viver a vida em totalidade se não nos recordarmos de quem nos criou?



Junção da contradição, pertencemos a um direito divino, assim como também a um direito posto pelos homens. Através disto, como conceber a existência, se não através da dialética? A vida compreende o movimento, nesta dança cósmica de eterno sofrimento. Uma existência concebida por um Direito, que logo é desdito, refeito, destruído.
A partir disto, seria o Direito nosso progenitor? Ou seria nosso mestre? Em ambos os casos, o conflito entre gerações é iminente. Mas apesar de não se tratar de uma briga contra nossos ancestrais, existe a questão do superá-los. Segundo Aristóteles, o verdadeiro discípulo é aquele que supera seu mestre. Diante disto, chegamos no questionamento: devemos superar o Direito, este tão respeitado pai que nos criou? Da mesma forma, o Direito deve sofrer constante metamorfose, a partir da igual dialética que nos formou enquanto indivíduos. Portanto, a existência não deve ser demasiada longa, de modo que sua continuidade se deva a máquinas. Pelo contrário, a dialética nos ensina que a arte, que nos rege, deve ser a da destruição.
O Direito pode ser vívido como uma caveira, formado pela opressão da elite contra a minoria – ordem e progresso sobre a sanguinolenta expressão, de rostos cortados e mãos maltratadas. Isso porque, ter um ancestral tão nobre como o Direito não é garantia de dignidade. Ele pode ser injusto como uma existência sem pronúncia, pois para aqueles que - marginalizados - fogem do ordenamento jurídico, não há direito de fala. Beijados pela boca de vidro de nosso pai – de fria ternura, assim como a letra fria da lei – temos cortes por todo o rosto. Assim, somos obrigados a nos curar, nos mudar diante da ordem de nosso pai.
Na promessa de segurança – diante de um progresso atrelado a ordem - vivemos na promessa de um céu divino. Mesmo sem nuvens, se trata de um céu que esconde suas ilicitudes. É um Direito que nos concebeu para sermos massa falida, nem mesmo de “humano” podemos nos chamar. O fato do Direito ser nosso pai não significa que somos filhos dignos dele.


Érika Nery Duarte
Direito Matutino, 1° ano

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