segunda-feira, 6 de maio de 2019

     De acordo com as teses sociais do filósofo Émile Durkheim, a sociedade em si, de maneira análoga com um sistema orgânico, é capaz de desenvolver comportamento e mentalidade própria que reflete em todos os nichos de tal coletivo. Dito isso, tal fator orgânico também se encontra na acomodação das regras e normas de convívio da mesma, até mesmo em quesitos como a política, a divisão do trabalho e as particularidades do Direito (e suas atualizações) em uma sociedade.

     Seria então a suposição de um simples ato ou pensamento cem por cento isento de política algo tangível e real para um indivíduo que vive em sociedade? O cerne desta teoria nos remete a um antigo slogan feminista - "O pessoal é o político", utilizado pelas feministas de segunda-geração nos anos 60, buscando destacar o caráter intrínseco de relação entre a vida pessoal, social e política não apenas das mulheres, mas da sociedade como um todo. Uma das interpretações vigente do slogan se dá através da concepção de que o lado pessoal, na verdade, nada mais é do que uma reflexão do status quo político, onde as pessoais de alguém revelam ou refletem as crenças políticas do indivíduo.

     Embora há aqueles que clamam que uma vivência sem política é ultimamente possível, a dualidade entre o percebido "bem e mal" em praticamente qualquer quesito sociológico passa a atingir o consciente do indíviduo que seja: Apenas um lado pode vencer em um jogo de soma zero. E esse modo de pensar é praticamente estruturalmente incapaz de não acabar gerando intolerância, divisão e conflito de ambos os lados do proverbial corredor político, sendo o desacordo, ainda que cordial, ultimamente entendido como irracionalidade e ignorância pelas ambas as partes discordantes.

   Porém, temos de questionar a própria percepção humana quanto a classificação de que se algo é de fato político ou não. Talvez, nossa concepção sobre a classificação de algo como político ou não seria algo como "enviesado sobre uma ideologia particular" ou "tendendo a favorecer uma ideologia sobre outras," Nesse caso, a percepção de algo como apolítico tende a ser difícil: A neutralidade em si tenderá a apoiar o status quo, ou, se não esse, pelo menos outro espectro político, assim até mesmo paradoxicamente eliminando o carater neutro da dita neutralidade política em si! Virtualmente, porém, seria possível a classificação de algo como apolítico se fosse feita uma meticulosíssima análise sobre a remoção dos viéses políticos de uma ideia, ato ou crença. Porém, se considerado a infinidade de visões (de caráter ineerentemente político de uma forma ou outra) sobre tal assunto, tal análise torna se impossível em fins práticos. Assim, uma hipotética pesquisa interminável pelo ato realmente apolítico frustrará a humanidade por um bom tempo, revelando que, o ato apolítico é de fato praticamente fantasioso.

Rodrigo Riboldi Silva
1º Ano - Direito - Noturno

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