segunda-feira, 22 de abril de 2019

Nem todos os amores por princípio, alguma ordem como base e um suposto progresso como fim

Augusto Comte viveu em Paris, na primeira metade do século XIX, palco da revolução industrial e da revolução francesa, sendo um momento muito conturbado para o homem. Assim, Comte começa a propor uma filosofia como resposta aos conflitos do homem neste século, uma filosofia positiva, na qual o fundamento intelectual da fraternidade entre os homens possibilitaria a vida em comum. Tal filosofia realizaria uma reforma intelectual no homem e este reorganizaria toda sociedade tendo “o amor como princípio; a ordem por base e o progresso como fim”. Sua filosofia positivista revolucionou o fazer científico, tendo como Francis Bacon, Galileu Galilei e René Descartes seus fundadores, à medida que forneceu aos homens novos hábitos de pensar de acordo com o estado das ciências de seu tempo, assim sendo uma filosofia que mostraria as razões pelas quais uma certa maneira de pensar deve imperar entre os homens e uma sociologia que, determinando estruturas e processos de modificação da sociedade permitisse uma reforma prática das instituições que a regem. Logo, o positivismo, ao defender o cientificismo social trouxe determinadas interpretações que podem nos levar a pensamentos e práticas preconceituosas. Os humanos são muito voláteis e flexíveis, logo, como a chamada Estática Positivista- a ordem- pode analisar de forma tão rígida e exata algo tão mutável quanto uma sociedade humana? Além disso, nossa sociedade não é única, havendo diversos costumes que nos são desconhecidos. Assim, o positivismo nos possibilitou avançar às ciências sociais, mas tais avanços, se extremados, podem passar a legitimar práticas discriminatórias contra outras pessoas de outras sociedades. Olavo de Carvalho, em seu texto “Mentiras Gays” é um exemplo disso: em tal texto, afirma que a heterossexualidade é superior à homossexualidade porque a primeira reproduz a espécie, e na falta de sua normatividade, entraríamos em extinção; já a segunda não deveria ser normatizada porque não seria “útil” à sociedade e “não reproduziriam” nossa espécie, assim, de certa forma, referenciando o princípio positivista do útil frente ao inútil, logo, colocar essas orientações sexuais no mesmo plano tratando-as como sendo livres seria “falsear”, seria errôneo, visto que prioridade determina hierarquia, e por não reproduzirem a espécie, as práticas homossexuais deveriam ser questionadas. Assim, de acordo com Olavo, o sexo deveria ser realizado para a procriação, não pelo prazer. Tal aspecto, do ponto de vista estritamente biológico talvez fizesse sentido, no entanto, nós humanos somos muito mais do que essa vontade de reproduzir. Temos nossos desejos psicológicos e emocionais, assim sendo, uma forma de sexualidade não anularia a outra, sendo ambas formas de amor validadas. Olavo também afirma que a perseguição aos homossexuais é um mito, visto que “para cada ato cometido contra, há um ato cometido por homossexuais” e para ratificar tal afirmação, traz o argumento de que o Imperador romano Calígula e o líder chinês Mao Tsé Tung foram dois tiranos homossexuais além de citar o comércio de meninos para bordéis homossexuais na Inglaterra, demonstrando como os homossexuais foram opressivos ao longo da História. No entanto, pesquisas mais atuais em nossa sociedade demonstram que a homofobia existe e mata e agride milhares de pessoas por ano. No texto de Olavo, é afirmado que os homossexuais estigmatizaram a palavra “preconceito”, visto que se eles podem ter o direito de sentirem atração pelo mesmo sexo, os héteros devem ter o direito de sentirem repugnância a tal fato, ou seja, o direito à preferência é insensato se desacompanhado do direito à repugnância. “Se o homossexualismo é um direito, também o preconceito homossexual o é”, assim, o único direito dos homossexuais seria o de que sua conduta sexual não acarretasse discriminação no emprego e na sua vida social nem se expressasse em atos agressivos. Tal pensamento é desumano, visto que trataria os homossexuais somente como trabalhadores, somente exercendo sua função social e não possuindo nenhuma outra garantia, não importando seus sentimentos e pensamentos. Olavo tenta se usar de um raciocínio positivista ao longo de seu texto, mas ignora um dos princípios (o de fechar o campo de pesquisa de um fato e comprová-lo) quando atesta que explicar a homossexualidade para crianças trará duas consequências graves para a sociedade: ensinar a homo e a heterossexualidade como equivalentes às criança fará com que a primeira orientação sexual seja escolhida e que, a longo prazo, elas se entregariam aos adultos que possuem algum desejo por elas. O autor afirma que haverá tais consequências com base em que? Não há pesquisas neste campo. Assim, Olavo elenca o porque os homossexuais mentem, não comprovando nenhuma de suas afirmações e legitimando e justificando preconceitos contra esse grupo que muito já sofre e sofreu no Brasil e no mundo ao longo da História.

Theodoro Antonio de Arruda Mazzotti Busulin ( Matutino)

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