Theodoro Antonio de Arruda Mazzotti Busulin ( Matutino)
Este é um espaço para as discussões da disciplina de Sociologia Geral e Jurídica do curso de Direito da UNESP/Franca. É um espaço dedicado à iniciação à "ciência da sociedade". Os textos e visões de mundo aqui presentes não representam a opinião do professor da disciplina e coordenador do blog. Refletem, com efeito, a diversidade de opiniões que devem caracterizar o "fazer científico" e a Universidade. (Coordenação: Prof. Dr. Agnaldo de Sousa Barbosa)
segunda-feira, 22 de abril de 2019
Nem todos os amores por princípio, alguma ordem como base e um suposto progresso como fim
Augusto Comte viveu em Paris, na primeira metade do século XIX, palco da revolução
industrial e da revolução francesa, sendo um momento muito conturbado para o homem.
Assim, Comte começa a propor uma filosofia como resposta aos conflitos do homem neste
século, uma filosofia positiva, na qual o fundamento intelectual da fraternidade entre os
homens possibilitaria a vida em comum. Tal filosofia realizaria uma reforma intelectual no
homem e este reorganizaria toda sociedade tendo “o amor como princípio; a ordem por base
e o progresso como fim”.
Sua filosofia positivista revolucionou o fazer científico, tendo como Francis Bacon, Galileu
Galilei e René Descartes seus fundadores, à medida que forneceu aos homens novos hábitos
de pensar de acordo com o estado das ciências de seu tempo, assim sendo uma filosofia que
mostraria as razões pelas quais uma certa maneira de pensar deve imperar entre os homens e
uma sociologia que, determinando estruturas e processos de modificação da sociedade
permitisse uma reforma prática das instituições que a regem. Logo, o positivismo, ao
defender o cientificismo social trouxe determinadas interpretações que podem nos levar a
pensamentos e práticas preconceituosas. Os humanos são muito voláteis e flexíveis, logo,
como a chamada Estática Positivista- a ordem- pode analisar de forma tão rígida e exata algo
tão mutável quanto uma sociedade humana? Além disso, nossa sociedade não é única,
havendo diversos costumes que nos são desconhecidos. Assim, o positivismo nos possibilitou
avançar às ciências sociais, mas tais avanços, se extremados, podem passar a legitimar
práticas discriminatórias contra outras pessoas de outras sociedades.
Olavo de Carvalho, em seu texto “Mentiras Gays” é um exemplo disso: em tal texto, afirma
que a heterossexualidade é superior à homossexualidade porque a primeira reproduz a
espécie, e na falta de sua normatividade, entraríamos em extinção; já a segunda não deveria
ser normatizada porque não seria “útil” à sociedade e “não reproduziriam” nossa espécie,
assim, de certa forma, referenciando o princípio positivista do útil frente ao inútil, logo,
colocar essas orientações sexuais no mesmo plano tratando-as como sendo livres seria
“falsear”, seria errôneo, visto que prioridade determina hierarquia, e por não reproduzirem a
espécie, as práticas homossexuais deveriam ser questionadas. Assim, de acordo com Olavo, o
sexo deveria ser realizado para a procriação, não pelo prazer.
Tal aspecto, do ponto de vista estritamente biológico talvez fizesse sentido, no entanto, nós
humanos somos muito mais do que essa vontade de reproduzir. Temos nossos desejos
psicológicos e emocionais, assim sendo, uma forma de sexualidade não anularia a outra,
sendo ambas formas de amor validadas.
Olavo também afirma que a perseguição aos homossexuais é um mito, visto que “para cada
ato cometido contra, há um ato cometido por homossexuais” e para ratificar tal afirmação,
traz o argumento de que o Imperador romano Calígula e o líder chinês Mao Tsé Tung foram
dois tiranos homossexuais além de citar o comércio de meninos para bordéis homossexuais
na Inglaterra, demonstrando como os homossexuais foram opressivos ao longo da História.
No entanto, pesquisas mais atuais em nossa sociedade demonstram que a homofobia existe e
mata e agride milhares de pessoas por ano. No texto de Olavo, é afirmado que os
homossexuais estigmatizaram a palavra “preconceito”, visto que se eles podem ter o direito
de sentirem atração pelo mesmo sexo, os héteros devem ter o direito de sentirem repugnância
a tal fato, ou seja, o direito à preferência é insensato se desacompanhado do direito à
repugnância. “Se o homossexualismo é um direito, também o preconceito homossexual o é”,
assim, o único direito dos homossexuais seria o de que sua conduta sexual não acarretasse
discriminação no emprego e na sua vida social nem se expressasse em atos agressivos. Tal
pensamento é desumano, visto que trataria os homossexuais somente como trabalhadores,
somente exercendo sua função social e não possuindo nenhuma outra garantia, não
importando seus sentimentos e pensamentos.
Olavo tenta se usar de um raciocínio positivista ao longo de seu texto, mas ignora um dos
princípios (o de fechar o campo de pesquisa de um fato e comprová-lo) quando atesta que
explicar a homossexualidade para crianças trará duas consequências graves para a sociedade:
ensinar a homo e a heterossexualidade como equivalentes às criança fará com que a primeira
orientação sexual seja escolhida e que, a longo prazo, elas se entregariam aos adultos que
possuem algum desejo por elas. O autor afirma que haverá tais consequências com base em
que? Não há pesquisas neste campo. Assim, Olavo elenca o porque os homossexuais mentem,
não comprovando nenhuma de suas afirmações e legitimando e justificando preconceitos
contra esse grupo que muito já sofre e sofreu no Brasil e no mundo ao longo da História.
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