terça-feira, 2 de abril de 2019

As algemas do saber.

            Sob a ótica de Amós Oz, autor de “Como curar um fanático”, tem-se a teoria de que nenhum ser é uma “ilha” – essa teoria é reiterada no filme Ponto de Mutação (1991), de Bernt Capra –, no sentido de que sempre será permeado por suas convicções pessoais. Nessa lógica, a melhor analogia é de que os seres são “penínsulas”, pois não se distanciam de suas raízes, entretanto mantém contato com as águas do oceano, representando, assim, os outros indivíduos e seus respectivos conhecimentos. Contudo, no contexto da produção científica, o envolvimento pessoal pode ser prejudicial à população que receberá a pesquisa, por exemplo, caso tentem transformar o singular em uma lei generalizada.
            Desse modo, surge a importância do saber fundamentado, fazendo uso de princípios científicos que permitam obter uma visão clarividente, seguindo métodos de análise. Porém, como abordado no filme supracitado, não pode ser algo mecanicista, deve-se compreender que a natureza age como um sistema e, para entender seu funcionamento, é preciso observar o todo e não somente partes isoladas, criando leis precipitadas. Assim, abandonando o famigerado senso comum, o qual pode deturpar a sociedade e transformá-la em um local de convivência danosa, podendo tangenciar o fascismo nas relações em sociedade.
            Não obstante, o cientismo endeusado como uma religião também não é sadio, pois aqueles que produzem o conhecimento – os cientistas – têm que agir com responsabilidade, não transferindo-a aos financiadores e afins. Outrossim, a situação é hiperbolizada com a população que não se sente motivada a estudar e considera que somente os indivíduos que ocupam lugares de “sábios”, devem estudar e se atualizar. Dessa forma, ambos posicionamentos atrasam o desenvolvimento e a ciência.
            Portanto, para alcançar um saber puro e sem as “amarras” da percepção individual, é preciso superá-las. O mesmo ocorre no Mito da Caverna idealizado por Platão, em que as pessoas aprisionadas eram capazes de enxergar apenas sombras e, ao se soltarem, conseguem apreciar o verdadeiro significado e forma das coisas. Nesse âmbito, é possível vislumbrar uma sociedade justa e sem espaços para o fascismo.
           
Bianca de Faria Cintra - Direito Noturno, 1º Ano.

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