quarta-feira, 27 de março de 2019

O racismo e a experiência na sociedade brasileira

Segundo o filósofo e matemático René Descartes, em sua obra "Discurso do Método", publicada no século XVII, a verdade pode ser alcançada a partir da dúvida, ou seja, tudo deve ser questionado até que nada mais seja incontestável e, assim, originou-se o Método Científico, que tem a razão como filtro para que a verdade seja atingida. Nesse prisma, esse método entrou em conflito com o pensamento teológico da época, que consistia na aceitação das verdades impostas pela Igreja sem nenhuma contestação, baseando-se apenas na fé religiosa. Ademais, o filósofo Francis Bacon, em "Novum Organum", diz que a verdade pode ser diferente para cada pessoa pois ela existe em decorrência das experiências e vivências de cada um. 
A partir desses pontos de vista, é possível analisar o racismo na sociedade brasileira, sendo este estrutural, pois, devido ao longo período de escravidão, acompanhou a história do país e já está naturalizado para muitos. Assim, quanto ao tratamento da população negra, o pensamento cartesiano, fundamentado na dúvida, não é bem explorado, já que atitudes racistas ocorrem diariamente e não são questionadas pela sociedade. Além disso, os que não lidam com o racismo em seu cotidiano não podem compreender ou reconhecer plenamente a sua existência, visto que, como afirma Bacon, para ter conhecimento é necessário a experiência.
Nesse sentido, o ilustrador Alexandre Beck é autor de duas tirinhas que exemplificam o caráter estrutural do racismo: em uma delas, ele mostra Armandinho, branco, sugerindo a Camilo, negro, que apostassem uma corrida até a amiga deles, mas, ao ver um policial, este diz que é perigoso para ele correr; na outra, os dois personagens são parados por um policial, que pede às crianças - que estão carregando bicicletas - que mostrem a nota fiscal dos brinquedos. Em ambos os casos, Camilo precisou ter cuidados que não são exigidos de pessoas brancas e, portanto, Armandinho, por não sofrer racismo, não os compreende. 
Dessa forma, o pensamento cartesiano não é devidamente aplicado para com a questão racial, pois a naturalização do racismo está inerente à sociedade, além de ficar claro que a experiência é fundamental para a obtenção do conhecimento.

Giovanna Marques Guimarães - 1° ano - Direito (Matutino)

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