quarta-feira, 27 de março de 2019

A institucionalização do racismo sob o viés empírico de Bacon e racional de Descartes

   As tirinhas apresentadas denunciam claramente o racismo, um assunto de grande discussão na sociedade moderna. Versando um prisma fortemente crítico em relação à essa problemática, cabem-se, a partir da interpretação da tira, duas análises diferentes em relação à posição social ocupada por cada personagem da tira: um primeiro à luz excepcionalmente racional de René Descartes e outro sobre o empirismo de Francis Bacon.
   Nesse sentido, Armandinho, Camilo, Fê e o policial, os personagens de ambas as tiras, vivenciam diferentes situações que retratam de forma implícita o racismo institucionalizado em estruturas estatais presentes no cotidiano da população tais como a polícia.
   Na primeira tirinha é retratada uma abordagem policial feita com duas crianças em seus brinquedos, na qual o policial que os abordou pede a nota fiscal que comprove que os brinquedos realmente são dos meninos. Claramente, o ocorrido deixa Armandinho, personagem branco, perplexo com tamanha suspeita em relação à duas crianças brincando, o que não impede seu amigo, Camilo, personagem negro, de mostrar o comprovante de compra de seu brinquedo.
   Na segunda tira, Armandinho propõem a Camilo uma brincadeira de correr até a Fê,também branca,amiga dos meninos. As crianças se empolgam, porém, a única presença de um policial próximo à menina faz com que Camilo desista do jogo temporariamente.
   Com efeito, torna-se claro as mensagens implícitas nas tiras ao analisar a persistência do racismo na sociedade brasileira ainda hoje, sendo que, nos casos supracitados, a primeira tira mostra a contínua suspeita em relação à pessoas negras e no segundo caso é mostrado, além da suspeita, a ação repressivo imposta ao grupo negro presente na fala do personagem Camilo: '' Pra mim, não é seguro!''. Nesse sentido, nota-se nas tiras as personificações das duas teorias filosóficas citadas na introdução: Armandinho como o racionalismo ufânico e Camilo como o empirismo e representação experimental da realidade.
   Com isso, o prisma racional, representado por Armandinho, denota a falta de lógica, tal qual a indignação da personagem, frente às ações racistas cometidas pelo policial (a qual interpreta o todo aparato social racista institucionalizado) e o prisma empírico, computado a Camilo, denota a experiência fatídica vivida pela população negra, os quais, apesar da falta de racionalidade no racismo e suas derivações, ainda sofrem com a persistência de medidas repressivas e ostensivas, que não só quebram direitos básicos desses como também os levam a carregarem notas fiscais de simples bicicletas.

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