quinta-feira, 28 de março de 2019

A herança das Jim Crow Laws em contraste com o método científico


O racismo estrutural tem por definição o conjunto de práticas, falas e costumes instaurados em uma sociedade na qual aplica atos discriminatórios direta ou indiretamente a um grupo étnico. Demonstra-se essa implicação com os Estados Unidos da América, cuja sociedade fora baseada no escravismo que explorava a mão de obra negra, sistema esse com maior recorrência nos estados do Sul. Esta conjuntura socioeconômica iniciou a problemática da discriminação racial, apesar das lutas pelos direitos raciais realizadas na segunda metade do século XX. Tais problemas persistem na contemporaneidade em decorrência do tradicionalismo enraizado na cultura norte-americana, que se intensificou durante a criação das Jim Crow Laws, – leis que fundamentaram a segregação racial nos EUA – cuja intensificação se deu não apenas no quesito judicial, mas também em aspectos cotidianos, como na cinematografia e na propaganda.  Exemplifica-se os aspectos cinematográficos com o filme “The Birth of a Nation”, dirigido por D. W. Griffith em 1915, do qual coloca o negro em uma posição pejorativa e criminalizada, fazendo com que o público branco obtenha o estereotipo de periculosidade de um grupo social diferente no campo étnico. Sendo assim, a herança do tradicionalismo destilado em discursos de ódio contra afrodescendentes dos Estados Unidos da América é a constante recorrência da criminalização da figura negra nesse país em que, similarmente, tal situação é ilustrada nas tirinhas de Alexandre Beck. Analogamente, a incriminação da população negra também legitima a violência de brancos contra esta, como no caso de Trayvon Martin em 2012, em que o adolescente negro foi assassinado em uma mercearia - sem apresentar qualquer ameaça - por um supremacista, sendo este inocentado de sua infração contra o direito a vida do jovem, alegando legítima defesa.

Analisando as evidências apresentadas, nota-se que o conjunto de costumes racistas obscurecem a racionalidade humana visto que, em meio às conquistas da comunidade negra e do avanço da humanidade estabelecendo igualdade entre seres humanos, a ideia de superioridade persiste na realidade atual. Esses comportamentos consistem na sociedade devido ao tradicionalismo enraizado nela, o qual entra em conflito com a busca da verdade. Segundo o filósofo racionalista René Descartes em sua obra “O Discurso do Método” (1637), para que o indivíduo alcance a verdade, ou seja, a razão concreta, este deve questionar sobre tudo àquilo que já lhe fora apresentado ao decorrer de sua vida. No entanto, antes de iniciar o método do conhecimento, o indivíduo necessita se desgarrar dos tradicionalismos, pois estes podem aprisioná-lo no trajeto do caminho da busca pela ciência. Considerando, pois, os ilogismos de outrora que atingiram seres humanos por suas etnias, pode-se adotar a ideia de Descartes, de que deve-se livrar “dos muitos erros que podem ofuscar a nossa luz natural e nos tornar menos capazes de ouvir a razão”.

Ademais, explica-se esse aspecto social por meio de ídolos criados pela sociedade, dos quais atrapalham o conhecimento empírico e, consequentemente, encobrem o alcance da ciência. Em “Novum Organum”, publicado em 1620 pelo filósofo empirista Francis Bacon, este apresenta os ídolos – noções falsas que ocupam o intelecto humano – que obstruem o acesso da verdade. Correlativamente, esses ídolos podem demonstrar o embasamento do racismo nos Estados Unidos, o qual pelos processos históricos de formação da sociedade supremacista norte-americana se embasou em distorções da mente humana em relação aos afrodescendentes, na insistência em “permanecer na caverna” – uma vez que os indivíduos se acomodam nos tradicionalismos impostos pela sociedade - , na adoção de discursos segregatórios como verdades absolutas e veemência de ideias que não se baseiam na racionalidade acopladas à estes discursos. Estes pontos seguem nas ideias, respectivamente, dos ídolos da tribo, da caverna, do foro e do teatro.

A luz dos argumentos citados, nota-se que o racismo estrutural dos Estados Unidos da América fomenta o discurso de criminalização de seres humanos por pertencerem a determinado grupo étnico e que, na perspectiva de René Descartes e Francis Bacon, percebe-se que essa problemática ofusca a busca pela verdade de que todos seres humanos devem ser tratados com igualdade e dignidade. Portanto, a criminalização obsoleta da população negra estadunidense deriva da insistência da ignorância humana que consiste na recusa de se libertar da caverna dos costumes e tradições.




 Giovana Silva Francisco, 1º ano - Direito - Noturno

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