quinta-feira, 28 de junho de 2018

Ruptura de paradigmas: a união homoafetiva


Em meados de 2011, o Supremo Tribunal Federal conferiu às uniões homoafetivas o caráter de entidade familiar, concedendo a mesma proteção jurídica destinada à união estável. Sob a ótica de Axel Honneth, a decisão da corte foi de suma importância para o movimento social dos homossexuais, já que houve o reconhecimento pela segunda dimensão, o direito. Isso é um importante passo para o reconhecimento, afinal, salvo algumas exceções, a primeira dimensão é extremamente prejudicada, interferindo na autoconfiança, mas o direito confere o autorrespeito. Com isso, pode haver a concretização da terceira dimensão, a solidariedade, reconhecimento pelos pares; já que, como disse Dimitri Dimoulis, o direito pode interferir na moral de uma sociedade.
A luta social é estimulada, segundo Honneth, pelo sentimento de lesão. Durante muito tempo, os homossexuais foram lesados, tanto no âmbito moral, quanto no físico; no decorrer da história, por exemplo, na Segunda Guerra Mundial, eles foram mortos por amarem um indivíduo do mesmo gênero. Até a contemporaneidade, os homossexuais sofreram de diversas maneiras o desrespeito, lesão moral, afinal, a OMS (Organização Mundial da Saúde) até 1990 considerou a homossexualidade como doença, ou seja, havia a negação da igualdade e até mesmo o da humanidade em relação aos homossexuais. A luta social começou quando houve a “comunidade de sofrimento”, o sentimento de lesão e trauma que um indivíduo passou, articulou-se com o coletivo, isto é, o trauma que um particular sofreu é semelhante entre os pares, do grupo social, que majoritariamente sofre com isso. Ou seja, as lesões que um homossexual sofre é semelhante ao do outro homossexual, como por exemplo: títulos vexatórios e, como já enunciado, a consideração patológica da homossexualidade.  
 Dessa forma, houve a ponte semântica, a reação contra a injustiça foi sentida por todos de uma mesma forma, gerando uma identidade coletiva, impulsionando as lutas sociais, incidindo no engajamento do grupo. Por isso, a decisão do STF foi de suma importância, já que garante a segunda dimensão do reconhecimento, incidindo no autorrespeito, isto é, o indivíduo se torna sujeito de direito; no julgado, os casais homoafetivos adquiriram direitos e deveres como qualquer outro casal derivado da união estável, ou seja, desde que haja a intenção de constituir família, o homoafetivo poderá registrar a união, podendo os cônjuges herdarem um do outro, adotarem, entre outros direitos. Esta instrumentalização, a positivação do reconhecimento da união homoafetiva, pode mudar a moral da sociedade, como diria Dimoulis, afinal, em diversas ocasiões uma norma mudou o pensamento da sociedade, haja vista que, na atualidade, a união é legal em termos jurídicos, abstraindo da ideia retrógrada de doença ou de anormalidade e essa nova relação será exposta ao corpo social, acarretando em uma mudança de mentalidade, obviamente, isso não acontecerá de forma espontânea.
Sendo assim, a decisão da Corte seguiu um dos princípios fundamentais da Constituição que é o princípio da dignidade da pessoa humana. Negar ou criminalizar o casamento homoafetivo é negar a própria existência do indivíduo, pois como diria Max Scheler, citado no voto do Ministro Ayres Britto, “O ser humano, antes de um ser pensante ou volitivo, é um ser amante”. Além disso, na perspectiva de Honneth, a atual conjectura da condição homoafetiva está incidindo na última dimensão do reconhecimento, a solidariedade. Nessa dimensão, os homossexuais são reconhecidos, isto é, os pares e a sociedade, reconhecem os seus valores e moral, titulando como legitimo e igualitário. Entretanto, até que complete essa fase, muitos paradigmas devem ser quebrados e estruturas remodeladas, mas deve se lembrar que, para Honneth, essa é a última dimensão do reconhecimento, ou seja, diversos paradigmas já foram quebrados, estando muito próximo da resolução desse embate e a Corte corroborou para que isso aconteça.  

Joelson Vitor Ramos dos Santos - Matutino, Turma XXXV

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