segunda-feira, 14 de maio de 2018


EMOÇÃO E RAZÃO NO CAMPO DA DOMINAÇÃO

            Segundo o sociólogo Alemão Max Weber (1864-1920) a função da sociologia era a de compreender o sentido das ações sociais numa perspectiva indivíduo-sociedade, diferentemente de seu contemporâneo, o sociólogo francês Emile Durkheim (1858-1917) que norteava os seus estudos a partir dos fatos sociais que moldavam coercitivamente as ações individuais a partir da sociedade. Além dos conceitos e teorias acerca da ação social, outro ponto importante no estudo desenvolvido por Weber trata da questão da dominação, que, segundo o autor, nada mais é do que o uso do poder legitimado, ou seja, a imposição da própria vontade dentro de uma relação social – mesmo com resistência por parte dos dominados – usando-se do direito para conseguir usufruir de tal domínio.
            Tivemos num passado bem recente, na cidade de São José dos Campos, no estado de São Paulo, um triste episódio que trouxe para a realidade concreta esta ideia de dominação weberiana: uma disputa judicial, envolvendo uma área de mais de um milhão de metros quadrados na zona sul da cidade (que estava desocupada a mais de vinte e três anos), que colocou, de um lado, os moradores que ocuparam o terreno, e do outro lado, o empresário Naji Roberto Nahas, dono da empresa Selecta e proprietário do local, permitindo estar frente a frente dois direitos fundamentais do nosso ordenamento jurídico: o direito de propriedade e o de moradia.
            O modo como terminou o imbróglio judicial – com a vitória do empresário e a destruição das casas dos trabalhadores sem-teto – nos faz pensar em outra expressão mencionada por Max Weber em seus estudos mais tardios: o desencantamento do mundo. O desencanto advindo da impossibilidade de haver um mundo pautado nos afetos, na solidariedade ou nas emoções, tão inerentes a espécie humana, e na convicção de que este mesmo mundo tende a estar sempre de olhos voltados para a razão prática e pragmática, que vai ligar a racionalidade do direito ao alcance de determinados fins que concorrem unanimemente na direção da vontade da classe dominante.

Evandro Oliveira Silva – Noturno

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