segunda-feira, 23 de abril de 2018

Engels e Marx: pensadores “(des)anacrônicos”


  Para Karl Marx, a causa estimulante das vicissitudes históricas são, primeiramente, alterações nas bases econômicas de determinada sociedade. Segundo Marx, a superestrutura está integralmente subordinada às estruturas de produção. Portanto, as mudanças que se operem nestas bases, refletirão ideologicamente na sociedade civil, alterando as relações sociais, os hábitos e a política. Essas mudanças, por sua vez, são frutos de um conúbio conflituoso: tese e antítese.
Para exemplificar a influência dos métodos produtivos, podemos fazer uma comparação das relações interpessoais em tempos remotos:


imagem I

Imagem I: exploração velada, o trabalho depende de fatores climáticos e a produção não possui um valor meramente capital, ela é usada, em grande parte, para a sobrevivência familiar. E as estruturas feudais são autônomas, não precisando, necessariamente, de laços entre essas células (feudos). Como bem notou Georges Duby: ”o feudalismo é nada mais, nada menos que o fracionamento da autoridade em múltiplas células autônomas”.
 E, novamente, faço o uso do pensamento de Duby para exemplificar que a cultura e as expressões sociais são mutáveis: “A arte é a expressão da sociedade em seu conjunto: crenças, ideias que faz de si e do mundo. Diz tanto quanto os textos de seu tempo, às vezes até mais” – e esta mutabilidade é explicada por Marx, quando ele afirma que elas são frutos da economia de certa época (então, quando essa economia [infraestrutura] é alterada, a superestrutura [cultura, instituições, estrutura de poder político, papeis sociais, rituais e o Estado.] se transfigura).
Já hoje, numa sociedade pós-moderna, as relações sociais estão cada vez mais líquidas, como disse o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. E, analisando essa sociedade por meio do pensamento de Marx e Engels, essa superficialidade das relações é oriunda da revolução burguesa – capacidade de se reinventar e alterar o que a cerca. Isso é escrito por Marx no Manifesto do Partido Comunista da seguinte forma: “A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produções, por conseguinte, as relações de produção e, com isso, todas as relações sociais”.
Ademais, com o surgimento do Toyotismo, após a segunda guerra mundial, a forma de produção foi fragmentada em partes pequenas, individualizado a produção e descentralizando a sede industrial, mas, da mesma forma, formando um produto social (cada parte é feita em um local, formando um material com colaboração mútua): está aí, outra forma de exploração, porém, dessa vez, esta exploração não é velada, ficando evidente à capacidade da burguesia reinventar os processos em que se dá a exploração.
Para finalizar, eu vislumbro que chegamos ao ápice do capitalismo: são usados aplicativos para explorar o homem. Um exemplo disso é o aplicativo iFood, que promove a propaganda de produtos alimentícios, cobrando taxas dos comerciantes. Por esse meio, esse software tira vantagens até da burguesia, cobrando impostos de franquias famosas e possuidoras de um grande volume capital, como o Habibs, por exemplo. Se Engels e Karl Marx estivessem presentes hoje, eu fio-me que eles diriam que o burguês, buscando o capital, explora até o seu semelhante: o burguês. Mas, de qualquer forma, o arcabouço teórico que engloba a essência do pensamento de Engels e Karl Marx não deixa de romper barreiras históricas e estourar a bolha temporal que cinge a sua época. 

Referências bibliográficas:

MARX, Karl. Para a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel – Introdução. Covilhã: LusoSofia Press, 2008.

MARX, Karl & Engels, Friedrich. O Manifesto Comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998 (Caps. I e II, p.07-44).


ENGELS, Friedrich. Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. São Paulo: Centauro, 2005.


BRUNO A. CURTI - DIREITO NOTURNO

 

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