quinta-feira, 15 de março de 2018

O Positivismo e o Privilégio



Alguns pensadores identificaram, ao longo da história, a necessidade de se criticar as divagações metafísicas feitas por grande parte dos filósofos, alertando à necessidade de as ciências humanas focarem em certos pontos da sociedade, ao invés de ampliarem demais suas discussões, evitando que não chegassem a conclusão alguma. Assim, defenderam, ao longo de suas obras, que as ciências naturais e humanas atuassem em conjunto como instrumento da evolução da civilização, desenvolvendo tecnologias e encontrando soluções para as problemáticas sociais.  
Auguste Comte, pai do positivismo, se baseou em dois desses pensadores (Francis Bacon e Descartes) que defendiam um método mais prático e útil das ciências sociais, para compor sua teoria. Para ele, além da necessidade de uma ciência objetiva, que ele chama de física social, o conhecimento humano deve ser utilizado como mecanismo de conservação da estrutura social e das instituições. Ou seja, é necessário compreender a dinâmica e a função social dos indivíduos, valorizar as instituições como a Igreja, a Família, a Moral e o Trabalho para manter a ordem e o estado de normalidade.  
Atualmente, muitos pensadores e figuras políticas da nossa sociedade baseiam-se no positivismo de Comte e no método de Descartes para justificar seu viés conservador. Portanto, acreditam que para o bom funcionamento da civilização, as funções de dirigentes e dirigidos devem ser estáticas e as diferenças sociais e econômicas são cruciaisdo contrário, a organização social entraria em colapso. A meritocracia é, desta forma, a única maneira de ascensão social que um indivíduo deve ter, negando qualquer ação afirmativa.  
Sabe-se, porém, que a defesa do positivismo só é interessante àqueles que estão no topo da pirâmide social, já que apenas para esses o conceito de meritocracia é válido.  Para os que são colocados as margens da sociedade e têm de trabalhar o dobro para conseguir atingir seus objetivos e ascender socialmente, o argumento de que suas funções subalternas também são importantes para manter a ordem é muito raso. Presenciar sua cor, orientação sexual, gênero ou classe social desvalorizados e aceitar que assim deve ser em prol de uma ordem/harmonia é custoso. Sendo assim, é de muito fácil compreensão as críticas que são feitas a teoria positivista. A estaticidade da sociedade é excludente e cruel. O colapso social não acontece pela mudança, e sim pela falta dela.  

Yasmin de Oliveira Silva. 
Direito-Noturno. Turma XXXV

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