quinta-feira, 17 de agosto de 2017

O quanto de fato se torna ato?

Enquadramento. Talvez essa seja o hábito social invariável no decorrer dos séculos, na pluralidade de espaços... Tudo deve ser enquadrado.
Cada fato, ato, agir e pensar em seu devido lugar, não só como partes da vivacidade orgânica do corpo social como coloca Durkheim, mas como peças de decoração se uma casa. A habitação social.
Não se trata de uma frigidez inabalável, mas talvez de pequenas possibilidades de mudança, adaptação gradual. Pode-se mudar de lugas, reformar; mas dificilmente se demole.
Assim se comportam as definições de padrões para os fatos sociais, conservando ordens, lentamente abrindo-se para as diferenças, mas... o quanto de tais fatos tornam-se atos?
Atos de repúdio, preconceito e intolerância... Exclusão pelos fatores mais diversos e... naturais? Pela simples expressão da sexualidade ou escolhas de círculo social. O coletivo engrandece sua maré inundando essa "habitação social", engrossando seu corpo pela corrente do senso comum.
Quais são os mais atingidos? 
As peças desajustadas.
Os componentes não homogêneos.
Aqueles móveis que não combinam com a decoração ou com os demais no espaço social. Ficam, então, fadados à escuridão, ao "quartinho dos fundos" donde são cobertos pelas amarras dos estereótipos. 
Anormais.
Anomalias.
Precisam de ajuste.
Devem se adaptar. Igualar.
Talvez a organicidade de Durkheim ainda não corresponda à realidade social atual, cabendo a nós não ignorar, mas reconhecer o condicionamento trazido pelo coletivo, na medida de impedir sua transformação em determinismo. 
Cortar as amarras de pré-conceitos faz-se necessário no mundo da simples conversão radical da ideologia à realidade vivida.
Adaptemo-nos nós mesmos e nossos supostos fatos-bem-ajustados.


Rúbia Bragança Pimenta Arouca
1º ano Direito diurno

Antes do Primeiro Suspiro


 As histórias individuais já estão previamente elaboradas, tudo foi escrito e pré-determinado antes do nosso primeiro suspiro, com padrões que se repetem e seaprimoram milenarmente. Não temos poder de escolha sobre as nossas próprias vidas, sendo o Homem programado para agir roboticamente, achando que opinae toma decisões individualizadas, mas que na verdade escolhe de opções formadas décadas antes de seu ato de escolha, vivendo o Ser Humano apenas mais do mesmo.
Voltados para o Consumo em nossa sociedade capitalista, condicionados desde o nascimento ao pensamento de massa do “Comprar a Felicidade”, o povo é bombardeado cotidianamente por propagandas que o afunda cada vez mais à essa areia movediça que é a Sociedade do Capital. Percebe-se isso no comportamento das “Milênios”, que quando não estão a par das tecnologias são isoladas do grupo e sofrem coerção por saírem de um “Padrão Ideal” de consumo; ou quando a Indústria Cultural vende às massas de músicas e roupas até filmes Hollywoodianos, que tem o mero intuito de dar entretenimento ao público.
Os Fatos Sociaitambém se mostram diferentes em cada sociedade, que geram também a sensação de pertencimento, podendo relacionar-se desde a assimilação com uma língua até fatos que regem o comportamento social, onde viver sem eles “seria estranho, seria errado”. Vide os costumes do mundo Ocidental versus o do mundo Oriental, quanto ao tratamento da questão de gênero ou aos costumes religiosos que regem um Estado Nação não laicizado. Percebe-se aí também como a forma pré-montada de pensamento depende da vivencia histórica, política e econômica do tempo-espaço em que cada sociedade se insere.
Quando alguém não segue um certo padrão normativo de comportamento, o coletivo gera automaticamente opressão tentando fazer o indivíduovoltar aos trilhos, à normalidade do pensar engessado. Como a pressão para que alunos prestem vestibulares de Universidades renomadas em cursos tradicionais, como Direito, no microcosmo de Escola Particulares.
O comportamento humano não é singular, deve ser analisado por uma ótica plural/universal. E é nesse momento que percebemos como o dito: “Você não é todo mundo, se todo mundo pulasse em um buraco você ia pular também?” é uma mentira, provavelmente a pessoa pularia, sendo levada pela corrente de pensamento da qual ela dificilmente conseguiria nadar contra.

Fabrício Eduardo Martins Soares - 1 ano Direito Noturno

Anomia como preceito de mudança

No meio social, os indivíduos tem pré-disposição, ainda que inconsciente, a permanecer no conjunto a qual estão inseridos. Quando este tecido social que mantém a sociedade começa a ser passível de mudanças, a ruptura da ordem causa ao Estado patologia crônica, que Durkheim dá o nome de anomia. Assim como o corpo biológico aciona diversas defesas para se proteger de doenças, o social utilizará do mesmo preceito na busca da manutenção da ordem. Ainda que, do ponto de vista lógico e racional, tal ação possa ser considerada deveras funcional e certa, é indubitável que muitos conceitos que não constam como estabelecidos em tal âmbito social podem, da mesma maneira com que os procedentes o foram, ser inseridos nesse meio. O combate “aos ídolos da mente” busca, através de fatos científicos, a inserção de melhorias e da modificação funcional das instituições. Fugindo das abstrações, um conceito concreto tal como o sistema de cotas, que ainda causa muita polemica, é passível de análise segundo os preceitos anteriormente mencionados. A pouca aceitação que causou no início consegue ser justificada nas ações de Durkheim e explicada posteriormente pelo mesmo no que cabe a naturalização que passa a ser incumbida com o passar dos anos.
A primeira universidade brasileira que fez experimentos com a política de cotas foi a UERJ, em 2002. Posteriormente a isso, em outras universidades, tal implementação causou muita resistência. Discursos como o do judiciário paranaense, que declaravam que as cotas afrontavam “o princípio constitucional da isonomia e reforça práticas sociais discriminatórias” foi um dos principais argumentos utilizados. A priori, quando tratado do principio isonômico sob ótica positivista, temos sua justificação fundada no mesmo, vez que tal conceito olha para o ato em si e o julga verdade. No entanto, quando feita a análise da causa interna, que deixa a aparência final do fato de lado e busca a problemática em sua essência, é indiscutível que o princípio isonômico nunca existiu, a começar pela renda – que está diretamente direcionada a oportunidade e investimentos no estudo – distorcida entre os concorrentes a vagas em universidades públicas. De acordo com o texto de Carlos Góes, no Instituto Mercado Popular, “Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios do IBGE mostram a realidade dessa distorção. Usando os critérios de classe desenhados pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, a classe alta corresponde a 24,8% da população. Mas, nas universidades públicas, a classe alta ocupa 45,5% das vagas. Do outro lado dessa equação, as pessoas que estão hoje na classe baixa são 23,1% da população brasileira, mas apenas 8,4% da população universitária. Os dados estão expostos no gráfico abaixo:”.

Ainda que tais dados sejam de 2013, não há alterações consubstanciais para o ano presente. Isso mostra em evidencia que um ponto que muito foi passado em diversas gerações brasileiras, começando com o ingresso de brancos ligados ao governo nas primeiras universidades, enquanto os negros ainda praticavam trabalho escravo, perpetuou-se na história. Como Durkheim mesmo afirma “(...) Instituições e/ou práticas sociais não surgem do nada, mas de necessidades, de causas eficientes, que se vinculam ao ordenamento geral do organismo social”, que aplicado a situação atual, na qual a emergência de renovação no ensino do país, começa a se efetuar políticas tais como as cotas raciais e sociais.”
Outro argumento acatado pela maioria concerne ao fato de indivíduos que adquirissem tais “privilégios” poderiam vir a ser “menos capazes” de conseguir permanecer na faculdade pública devido à sua defasagem. Outra pesquisa que abona isso é a feita por Teresa Olinda Caminha, em 2006, em sua tese de doutorado sobre o assunto, publicado na Revista Fórum: “Neste estudo, Teresa e Gurgel ajudam a derrubar um dos mitos do discurso anti-cotas. Dos 32 cursos oferecidos pela UERJ, seis são analisados no artigo, todos da turma ingressante no ano de 2006, e apontam para uma equivalência de notas no desempenho entre cotistas e não-cotistas, que contrapõe os valores alcançados no vestibular. No curso de Administração, os cotistas tiveram uma média de 30,48 pontos no vestibular, contra 56,02 dos não cotistas, quase o dobro de diferença. Porém, o desempenho durante o curso mostra um crescimento no rendimento dos cotistas, que chegam à média de 8,077 contra 8,044 dos não cotistas."
        
         “A superação demonstrada pelos alunos cotistas é considerada “espetacular” por Teresa. “Eles rompem barreiras como preconceito e o histórico de ensino precário, mostrando que esse mito do ‘nível’ é apenas isso, um mito, sem qualquer base cientifica que se justifique.” Outro preceito desmentido no estudo é o da evasão (ver tabela abaixo), o que configuraria um “fracasso escolar”, nas palavras de Teresa e Gurgel. Nos seis cursos avaliados, a evasão de não cotistas é sempre maior.


A reportagem, publicada em 2013, ainda continua com uma informação significativa: “Hoje, dez anos depois da experiência da Uerj, 32 das 38 universidades estaduais já adotaram modelos de ações afirmativas. No princípio, leis estaduais obrigavam as instituições a oferecem cotas, caminho seguido por 16 delas. Porém, com o passar do tempo, a outra metade das adesões foi espontânea, se dando por meio de resoluções dos conselhos universitários”. Em tal parágrafo, podemos observar consubstancialmente o momento em que a ameaça de uma anomia, gerada pelas costas, vai de uma reação negativa pela sociedade que enxerga no horizonte sua desagregação, e passa a ser a reprodução de um modelo coletivo, primado para a melhoria e avanço do meio.
                Dessa forma, a análise gerada propõe refletir: até que ponto as mudanças geradas conforme o avanço da tecnologia e do pensamento proporcionado pode vir a ser causa da degradação da sociedade causada pela anomia, ou de sua salvação num momento caótico gerado pela manutenção das tradições?


Michelle Fialkoski Mendes dos Santos – 1° ano Direito Diurno

Referencias bibliográficas: https://www.revistaforum.com.br/digital/138/sistema-de-cotas-completa-dez-anos-nas-universidades-brasileiras/
http://mercadopopular.org/wp-content/uploads/2015/07/uni.png

Durkheim esquecido

Durkheim em sua teoria funcionalista quebrou com as ideias de Comte de apenas observar os fatos e não o que possuía por traz deles. Assim, Durkheim cria uma teoria baseada na observação dos fatos sociais como coisas, sem desenvolver antipatia ou empatia por eles. Uma análise que vai além do indivíduo e busca compreendê-lo através das instituições que lhe coagiram ao longo de sua vida elucidando de que maneira um fenômeno social pode produzir outro.
Tendo em mente estes fenômenos, podemos realizar uma reflexão através da música do Legião Urbana, Faroeste Caboclo, que elucida toda a vida de “João de Santo Cristo” desde sua infância até sua morte. Já na sua infância podemos notar a situação no mínimo trágica onde está inserido: tendo o pai morto por um policial e vivendo em um lugar “temoroso”. Assim, instituições que para grande parte da população podem parecer benéficas, como a polícia e a escola, já eram mal vistas por ele em todo seu crescimento. A música nos leva a refletir como seria toda a vida de “João de Santo Cristo” se estivesse inserido em um contexto diferente. Se instituições diferentes o coagissem, será que tantas tragédias teriam ocorrido com ele? Será que viveria da forma que viveu? Será que morreria da forma que morreu?



Tal linha de raciocínio infelizmente é pouco vista na sociedade atual, onde as pessoas não analisam as causas reais das atitudes alheias. Uma ilustração clara desta situação é vista nos julgamentos. Os juízes sentenciam de forma mecânica e não estão preocupados com as particularidades de cada caso e nem com o contexto em que o indivíduo está inserido. Sendo assim, as pessoas encarceradas são facilmente tachadas de monstros, mesmo após cumprirem sua pena, revelando a incapacidade da sociedade de entender a realidade social do país.

Brenda Schiezaro Guimaro- 1ºano Direito Diurno

Émile Durkheim e o homeschooling

A educação doméstica ou homeschooling, criticada por diversos pedagogos e por agentes do Estado, é um tema pouco discutido no Brasil e que merece mais destaque diante de um modelo de ensino falido na rede particular e, principalmente, na pública. Disse Durkheim: “O indivíduo só poderá agir na medida em que aprender a conhecer o contexto em que está inserido, a saber quais são suas origens e as condições de que depende. E não poderá sabê-lo sem ir à escola, tal frase é inconsistente diante dos bons resultados apresentados por filhos que são educados em casa, o que é visto, por exemplo, nos Estados Unidos e na Inglaterra onde a prática é regulamentada.


Seguindo a ideia de Durkheim a respeito dos fatos sociais, esses são comuns a todos os indivíduos de determinada sociedade e exercem coerção sobre essa, pois se trata de uma regra geral. Dessa maneira, é possível a todos os indivíduos assimilarem os fatos sociais, sendo instruídos em casa ou não. No mesmo sentido, diz o sociólogo: "Esses tipos de conduta ou de pensamento não apenas são exteriores ao indivíduo, como também são dotados de uma força imperativa e coercitiva em virtude da qual e impõem a ele, quer ele queira, quer não".


O filme “Capitão Fantástico” é um exemplo da situação, nesse há o personagem Ben, pai que decide fornecer outro tipo de educação aos seus filhos, mas que rapidamente é repreendido por familiares que não acreditavam nesse modelo de educação e também pelo Estado. Observa-se no Brasil que mesmo com a obrigatoriedade de matricular os filhos na rede regular de ensino presente no artigo 55 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o número de famílias que adotam a educação doméstica vem crescendo, como demonstra o infográfico a seguir:



*Até 2 de março. **Rio Grande do Sul: dado indisponível.
Fonte: Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned). Infografia: Gazeta do Povo.
(Infográfico retirado de: http://www.gazetadopovo.com.br/educacao/educacao-domiciliar-ganha-forca-no-brasil-e-busca-legalizacao-7wvulatmkslazdhwncstr7tco)


Os críticos dizem que tal modelo dificulta o desenvolvimento de habilidades pessoais das crianças, porém o que se observa é o contrário, as que receberam educação domiciliar se desenvolvem igual ou até melhor. Assim, fica demonstrada a assimilação dos fatos sociais pelas crianças, que podem ter uma absorção melhor desses por terem mais contato com adultos em uma educação diferenciada.


Marco Antonio Cid Monteiro da Silva – 1º ANO – DIREITO - NOTURNO


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O trapiche em evidência.

                  Boa - Vida assim era chamado devido ao seu caráter indolente e remansado. Sem Pernas carrega em sua essência um ódio irrefreável contra tudo e todos. Essas personalidades díspares convivem em um mesmo corpo social, entretanto a junção desses singulares perfis não explicam muito menos justificam o fenômeno social ao qual estão completamente inseridos: o mundo do crime. A sub-sociedade formada pelos meninos do trapiche muito elucida acerca da compreensão dos fatos sociais atemporais. Tal analogia se dá pelo fato de que todos ali desfrutam de peculiares atmosferas e trazem consigo diferentes causas sociais que, minima ou maximamente, os esculpiram; entretanto, o meio que os expeliu e o meio que os acolheu são características comuns entre eles. É permissível a afirmação de que o meio aos quais estão agora inseridos não é fator determinante do agir desses indivíduos, mas sim os traumas que individualmente se instalaram em suas almas. Eis aí a explanação do porque um meio social pode ser o mesmo para um grupo e ainda assim seus componentes reagirem de maneiras distintas, como Pirulito e Pedro Bala. Há que se ressalvar que o microcosmo já mencionado não é a soma das personalidades que nele se inserem.
                  A singela moradia em uma parte qualquer de uma praia tem seus próprios caracteres, sendo regida por uma realidade específica. Não é um mero ligame de consciências. É uma associação de percepções. A fusão delas cria um ser único e exterior, um sub-mundo que apresenta propriedades dissemelhantes daquelas de que é formado, mas que carrega em seu cerne a perfeita concórdia daqueles que a formam. A originalidade dessa esfera a permite agir sozinha. O mundo ilícito ao qual estão inseridos não age, ou não nos força a agir, conscientemente no sentido de lhes causar algum prejuízo, moléstia voluntária. Essa sociedade erra querendo acertar. A tentativa de acerto, fora dessa realidade, é interpretada como algo prejudicial por quem a ela é alheio. Há causa de danos sem que se produza benefícios para o corpo social. Em uma análise positivista, seria visto como uma simples prática de crimes. Em uma visão Durkheimiana, sucede-se a atenção para a raiz do presente problema, buscando uma regressão nas razões profundas que certamente devem existir. A reação social que compõe a pena é devida ao emaranhado de sensações e éticas coletivas que o crime ofende. Não é interessante que apenas se puna o crime, mas que se conheça o criminoso em seus mais profundos choques mentais.
                   Assim, ainda que se olhe os indivíduos separadamente, nota-se características símiles de almas que habitam um lugar que foi capaz de transformar tendências criminosas latentes em manifestas. Por mais cruel que seja o ambiente, ele não faz o criminoso, mas sim age em concordância com ele. Conforme já dito, as condições psicológicas conversam entre si, estas podem não ser as mesmas na prática mas o são na essência, e desse diálogo nasce o corpo social já caracterizado, longe da simbiose de personalidades mentais.
                 O funcionalismo se encarrega de sanar as dúvidas que rodeiam a vida no trapiche.
           
Ana Carolina Ribeiro - 1 ano - Diurno

Mensagem (a)temporal

     Caros amigos,

     Há um tempo, percebi que os modos de viver propostos por cada um de vocês não são passíveis de realização. Percebam: o ser humano não é capaz de opinar em nenhum aspecto de sua vida, visto que todos acontecimentos e pensamentos que o rodeiam estão presentes em toda a sociedade em que vive, além destes já serem naturais a ele.
     Dessa forma, René, quando você diz, em sua obra “O discurso do método”, que resolveu romper a tradição e escrevê-la em francês, e não em latim conforme faziam os seus mestres, como algo individual e seu, você apenas migrou de uma ideologia já pronta para outra, a qual os seus contemporâneos julgavam melhor.
     Outrossim, Francis, ao nos sugerir que abandonemos nossas pré-noções antes de analisar algo para não julgarmos erroneamente, você não levou em consideração que todas as nossas noções são pré-noções. Isto é, ao sermos educados, ainda no começo de nossas vidas, recebemos a ideologia presente na sociedade, tanto dos nossos pais, quanto dos nossos professores, mesmo que seja de forma inconsciente. Assim, mesmo que eu abandone algumas pré-noções nocivas ao convívio social, não será possível abandonar todos, visto que mesmo que eu me proponha a pensar diferentemente de grande parte das pessoas, ao mudar de concepção e encontrar uma nova, do mesmo modo que disse a Descartes, ainda terei pré-noções, seja do pensamento A, seja do pensamento B.
     Por outro lado, Auguste, você, ao julgar alguém ou um fato social, não tenta olhar o interior deles e perceber qual motivo os levaram ao seu fim, você enxerga apenas a sua casca, a sua película. Porém, em um estado de anomia, quando as coisas fogem do natural, devemos procurar olhar o núcleo do fato.
     Por fim, espero que não se chateiem por eu tê-los utilizado como exemplo para expressar a minha ideia. Posso estar cometendo um grande equívoco ao propô-la, como posso não estar. Talvez, futuramente, seja eu o remetente de um novo pensador ao apresentar seus pensamentos. Peço, de novo, que não se zanguem: os considero muito.

                                                                                                                                             Émile D.

Bruna Benzi Bertolletti - 1º ano diurno

Via Láctea Durkheimiana


Nasci programada
“Aja como boa moça ou será rechaçada”
Impuseram-me visões, comportamentos
Acomodei-me as regras, perdi minha individualidade
Reproduzo diariamente padrões dessa sociedade
Sigo instituições: igreja, família, comunidade
Caro Durkheim, grande importância tem a coletividade
Fato social são aqueles impostos pela coercitividade,
Passíveis de análises, para que compreendamos o dilema que é a sociedade
Meu questionamento é: existem regras gerais para tanta pluralidade?
Manifestações individuais não consistem em fatos sociais
Fui arrastada por todos, questiono-me se existe um “eu”
Se resisto e me rebelo sou punida, não entendo
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!”
Se me expresso, respondem-me com deboche,
Bilac me entende
Então, incorporo padrões, as vezes inexplicáveis,
Para assim ser aceita diante da sociedade. 

Bruna Maria Modesto Ribeiro, 1ºAno direito diurno

Alimento dos Homens

“Em suma, se os tubarões fossem homens haveria uma civilização no mar.” É dessa maneira que Bertolt Brecht sintetiza sua hipótese que garante características humanas aos tubarões. Na construção do alemão, tubarões se tornam amigáveis aos peixes menores, lhes dão educação, comida e moradia para que, em troca, estes trabalhem e um dia se tornem alimento para os peixes maiores. Seria construída uma cultura de culto aos grandes dentes desses animais, os peixinhos que foram obedientes, nadaram para a barriga dos tubarões, seriam lembrados e serviriam de exemplo para toda a sociedade, a religião submarina exaltaria tal ato, outros peixes bons ensinariam a boa conduta para os mais novos. Isto é, a civilização do mar convergiria para a satisfação dos tubarões por meio de uma enorme força coercitiva, a mesma que atua na sociedade em que os homens são homens, exposta por Durkheim em seu estudo sobre os “fatos sociais”, ou seja, a maneira de pensar e agir exteriores ao indivíduo, tal como ocorre com os peixinhos de Brecht expostos à doutrinação dos tubarões.  
Muitas vezes, em cidades repletas de anúncios com os dizeres “Customize!”, “Dê a sua cara!” e “Seja livre”, é difícil destoar da massa, é difícil trilhar um caminho novo sem olhares de rejeição, não há espaço para a prática desses anúncios, não há espaço nem mesmo para a originalidade de novos anúncios. Gerações inteiras fazem o mesmo percurso que seus avós e pais fizeram, a faculdade deixou de ser uma opção para os jovens, ela é necessária, o diploma define o quanto vale cada um, e se vale. O empreendedorismo, a inovação, aquela mesma elogiada por Descartes, se encontra desfalcada em uma cultura como a brasileira atual, os riscos, até mesmo as críticas, enquanto manifestação da individualidade, são tomadas como ameaças à ordem social.
Mas qual seria a grande consequência à ordem social que tanto é temida? Novamente, é Durkheim quem nos apresenta outro conceito, o de “anomia”, ou seja, fratura as normas, em que uma sociedade perde o norte a se guiar, uma crise de valores, a qual garante tanto temor às organizações mais conservadoras. É a responsável pelas grandes mudanças comportamentais no decorrer das Eras, em geral provocada pela falta de coesão social e temporal, isto é, voltando à alegoria de Brecht, se alimentados com uma comida que já não lhes agrada, os peixinhos teriam sua fidelidade aos tubarões enfraquecidos, a coesão nos mares estaria comprometida. Em síntese, a busca da individualidade notada na atualidade é uma resposta à inadequação do tempo, traduzida na incapacidade de concretização dessa individualidade, os próprios homens, portanto, devem alterar sua alimentação para reestruturar uma nova ordem, ou seja, sua organização.
Felipe Cardoso Scandiuzzi - 1ª ano - Direito Matutino  



Educar para permanecer

A educação, em tese, seria o ato de aperfeiçoar o intelecto do indivíduo, capacitar, emancipar. Vemos cotidianamente campanhas dizendo como a educação é transformadora e, de fato, é. Porém, até a melhor escola do país ensina algo que Émile Durkheim discorre na sua obra acerca de fatos sociais: mudar o ser social, impondo regras que, aos poucos, são interiorizadas e dotadas como normais.
Uniformes, disposição das carteiras, sinal para a alimentação e sinais entre as aulas são apenas exemplos de uma ideia de ordem que é embutida no interior da criança. Além disso, a forma como os professores ensinam, a forma como o ensino é programado num todo faz com que haja a imposição de visões e crescemos tendo comportamentos aos quais não chegaríamos espontaneamente.
Querer ter boas notas, entrar numa faculdade, escolher o que fazer pelo resto da vida, isso tudo foi natural para você? Alguns acham que sim, outros entendem que foram arrastados pela sociedade, pela família, pelo medo do desemprego. Crescemos e reproduzimos. Reproduzimos um modelo coletivo, criado pelo fluxo e a acomodação às regras que nos fazem crer que alguns sentimentos são frutos da nossa própria elaboração. Os condicionamentos que nos foram dados de haver tempo para tudo: estudar, casar, ter filhos é fruto de uma internalização de uma concepção não natural de certo e errado.
Durkheim acredita que a sociedade se organiza para ela mesma, o equilíbrio para evitar a anomia, a ruptura da ordem e a fratura das normas, é a maior preocupação que o direito tem. Portanto, padronizar o comportamento é o que a sociedade faz para si em que a origem coletiva, vida comum, determina a “sincronia” das ações. A educação é necessária, enfim, para que a ordem social permaneça, a ideia de educar para transformar é contraditória, segundo Durkheim. 

Rayra Faria, 1º ano Direito