sexta-feira, 1 de setembro de 2017

XIX ou XXI?

O século XIX foi marcado por diversos acontecimentos de grande expressão na história, tanto na moderna, quanto o que veio desencadear na contemporânea, como a revolução industrial. Pode-se afirmar, ainda, a existência de pensamentos que ditaram rumos a sociedades inteiras, bem a exemplo do pensamento idealista de Hegel, quanto a Alemanha. Também, durante esse século, Marx e Engels foram figuras expressivas junto à filosofia que empregaram. O Socialismo. Por consequência, teve-se de forma clara uma espécie de maniqueísmo quanto posições políticas, no âmbito delimitado entre esquerda e direita.
A sociedade alemã na qual tais pensadores estavam inseridos encontrava-se, primordialmente, estratificada, entre classe operária e classe burguesa, que possuía os meios de produção. Nisso, a prevalência do materialismo dialético faz-se real. Tudo gira em torno daquilo que o homem faz. O homem faz o meio; o trabalho é inarredável a ele. A classe detentora dos meios emprega o proletariado, esse por sua vez produz para a burguesia. Conclui-se que quanto mais o proletário produzir, mais será rentável ao burguês, que fará o proletário produzir coisas cada vez mais longe de seu alcance. Logo o proletariado encontra-se alienado em uma suposta situação de conforto em que busca apenas ter como sobreviver e esquece que passa por tal exploração. Contudo, a sociedade, por influência do pensamento idealista, não se atentava ao que Marx viria a criticar, isto é, a ausência de atenção quanto a força de trabalho impregnada pelo operário para produzir ao empregador.
Com isso, para Marx e Engels, o fim da exploração da classe dominante, a classe trabalhadora deveria promover a ruptura dessa condição, de forma racional. Logo, o conceito de luta de classes se promove de forma verídica como sendo o motor da história, onde quem é dominado quer dominar e quem domina quer continuar dominando.
Tal filosofia crítica faz valer ressaltar as condições primitivas em que a sociedade se encontrava. Cargas horárias intermitentes, pouco tempo de almoço, sem férias, rígida disciplina, baixos salários, grande parte dos indivíduos analfabetos e o estado em que a maioria das pessoas se encontravam era de pobreza. Enquanto isso, em contrapartida, uma minoria encontrava-se com maior parte da renda, no caso, os donos de fábricas.
Em um cenário semelhante ao da Alemanha no século XIX, com a desconfiguração de direitos fundamentais, a sociedade brasileira vigente encontra-se em condições análogas à citada. É notável, ainda, que a polarização entre ideais liberais de esquerda e conservadores de direita estão cada vez mais salientados, e, por consequência, deturpados. Junto disso, a reforma das leis trabalhistas, pouco cabíveis, e a proposta do novo ensino médio, que aparenta afastar cada vez mais o estudante, sem condições de pagar uma universidade privada, do ensino superior no compasso que o projeta ao ensino técnico, abre à compreensão que a sociedade brasileira do século XXI se assemelha a primitiva capitalista alemã do século XIX.
Ademais, é possível ver que um ponto que se faz verídico na tese de Marx e Engels é o que se atenta ao fato de como as condições materiais determinam as relações na sociedade capitalista. A direita atual se promove com propostas conservadoras - muitas vezes fundamentada em ideais religiosos, bem como a maior parte da bancada evangélica, que por sua vez acaba por se aliar a propostas essencialmente ligadas ao viés capitalista esquecendo as necessidades do ramo social que o move - acaba por dar legitimidade a já citada proposta de reforma de leis trabalhistas. É claro que nem todo ramo dessa ideologia se baseia em preceitos religiosos. Contudo, Marx essencialmente critica o que a ideologia religiosa pode vir a causar quando atrelado a isso. Alienação, isto que é proposto por ela. Para ele, criada pelo homem, promove uma espécie de conforto que gera estagnação de quem está por ser explorado pelos agentes do sistema capitalista.
Tendo por outro lado os movimentos de esquerda na busca por implantações de políticas sociais em sua essência, influenciados pela doutrina marxista, o já citado cenário de maniqueísmo se completa. Há, ainda, no Brasil, a estratificação entre o operário e o empregador, que em maioria seguem em distinção tais orientações políticas.

Em suma, há uma crise de representatividade no que se relaciona aos padrões esquerda e direita, uma vez que, ao que tudo indica, acabam por ficar cada vez mais extremos. É perceptível que a manutenção do status quo da sociedade brasileira atual possui antigos embasamentos. Assim, se reforça, ainda, que a história tem por repetir sua luta de classes de tempos em tempos, a exemplo do que ocorre na classe dominante e na classe dominada na atualidade brasileira.

Pedro Henrique Lourenço Pereira - Direito - 1º Ano Diurno

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