segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Um Conto sobre o Fetichismo da Mercadoria

Adriano buscou Elise às 9h do sábado. Estavam felizes por que iriam escolher os tipos de doce que seriam servidos no dia de seu casamento. A cerimonialista os acompanharia, já que a escolha dos doces determinaria a elegância da festa, ou não, e eles não deveriam deixar passar tal oportunidade de tornar sua festa de casamento algo inesquecível para todos. Chegaram à cozinha industrial do buffet que escolheram e foram recebidos pela proprietária do mesmo, com muita simpatia. E lá vieram os doces! Elise e Adriano ficaram encantados... coloridos, com confeitos diferentes, de diversos formatos e tamanhos. E começaram a provar. A proprietária do buffet e a cerimonialista indicaram que eles deveriam escolher sabores alternados, azedos, doces e neutros, pois isso não saturaria o paladar dos convidados. O casal de noivos se espantou com a enorme variedade de sabores. Ambos haviam crescido comendo brigadeiro e beijinho caseiros, feitos por eles mesmos na cozinha de casa, ou por seus familiares. No máximo, comprados na padaria da esquina. Mas ali no buffet, resolveram seguir as dicas das experientes profissionais, pois depois de tantas provas, não tinham qualquer certeza. E se escolhessem errado? O que diriam os convidados? Ficariam ofendidos por esse descuido? Esse doce era elegante? E aquele era azedo o suficiente? E a textura? E as cores? Depois de definirem cinco tipos diferentes, foi necessário aguardar os cálculos de quantidade feitos pela simpática banqueteira. Afinal, se fossem em quantidade inadequada, eles poriam tudo a perder. Ao terminarem, se deram conta de que já eram 12h. Haviam passado toda a manhã de sábado no buffet! Mas tinham feito planos de caminhar na praça, dar banho em seu cachorro e passar na casa de amigos para conversar um pouco. Tudo fora tão detalhista e difícil, que o tempo voara! Elise comentou com Adriano que ela estava muito satisfeita com a escolha, mas que tinha a impressão de que esquecera algo. Adriano espantou-se. E disse que tinha a mesma percepção, mas não conseguia discernir o que podia estar errado. Afinal, a cerimonialista e a proprietária do buffet haviam sido excelentes. Talvez fosse o longo tempo passado longe da manhã de sol. Nada mais. Ou talvez o valor elevado dos doces, que havia surpreendido o casal. Somente em doces, eles já estavam ultrapassando o orçamento previsto. E ainda faltavam tantas coisas! Ambos percorreram o caminho de volta para a casa, calados. Ao chegarem, almoçaram e foram, ambos ao mesmo tempo, preparar um delicioso brigadeiro de colher, que comeram com grande prazer, e que diluiu um pouco a estranha sensação daquela manhã...

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