segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Para além do Marxismo



Analisando as disputas políticas pautas no século XXI, percebe-se que a complexidade dos fenômenos e dos debates vai muito além do que seria previsto analisando somente as condições matérias entre as classes, pois apesar das disputas econômicas e a luta de classes ainda serem o âmago da compreensão da realidade, os direcionamentos que tomam os diversos fenômenos sociais precisam de um olhar a mais, sendo nesse contexto de grande importante resgatar Weber para compreender a totalidade da realidade.

O desenvolvimento do capital e a ascensão da burguesia que se da pelo fato da posse da terra não ser mais a base da estrutura econômica, e sim as relações de comercio e posteriormente a indústria, explica a dinâmica das relações de poder e de muitas relações culturais, mas essas relações também adquiriram uma dinâmica própria com um lastro que dispõem, inclusive, de uma relativa independência.

Na periferia, onde se encontra o estrato que mais sofre as mazelas do capitalismo, temos uma ideologia crescente e já majoritária onde predomina o discurso neoliberal ancorado na meritocracia, onde o trabalho e o empreendedorismo que remete a uma visão calvinista da vida e do mundo sustentada pela visão historicamente construída por discursos como o tipo ideal do American way of life (Como resultado prático dessa conjuntura temos a vitória de Doria nas regiões periféricas do município de São Paulo), paralelamente com a visão conservadora e fundamentalista que remete a uma pseudo-ideologia cristã, que tem um lastro ainda mais independente, pois esta não colabora com o sistema de acumulação como aquela, e que ganha corpo com discursos nacionalista neofacista representado na figura de Jair Bolsonaro.

Do outro lado, à esquerda, depois do fracasso do projeto Petista, cada vez mais concentrada na academia, abraça cada vez mais pautas de gênero e sexualidade, que por mais que sejam de uma enorme importância, fogem do mantra materialista marxista, sendo que inclusive já são apoiadas por setores da direita, que com o intuito de manter a legitimidade perante as minorias que avançam no campo social, aderem ao seu discurso, porém sem apoiar grandes reformas que lhe garantem direitos.


Por mais que o materialismo seja fundamental para entender o mundo, a esquerda precisa entender as dinâmicas vão além dele, pautadas muitas vezes em um tipo ideal construído culturalmente e sustentada em uma legitimidade que é constantemente disputada.

Eduardo A. M Souza 
1° Direito Noturno

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