domingo, 3 de setembro de 2017

O materialismo histórico e suas aplicações



Marx e Engels se destacaram, entre outros motivos, por atribuírem um método inovador de interpretação da sociedade, estabelecendo uma ciência baseada no socialismo e no que ficou conhecido como materialismo dialético. Para tanto, propuseram a superação da filosofia de especulação sobre o mundo, dando lugar à explicação deste estruturada pelo capital. Afinal, a ciência só teria início com o fim da especulação. Nesse sentido, condenam uma corrente de pensadores conhecidos como socialistas utópicos, segundo os quais o socialismo é uma verdade absoluta a ser revelada, expressão da razão e justiça. Esse voluntarismo para transformar a ordem seria uma utopia na medida em que desconsidera a sistemática e a complexidade de uma sociedade capitalista na qual os meios de produção determinam as relações sociais. Tais pensadores se viam como homens iluminados e tomavam como base apenas a razão pensante, o que impossibilita a noção do todo, das relações e da multiplicidade da dinâmica social.
                  Contrapondo-se a essa tendência, Marx e Engels desenvolveram o materialismo dialético, um método científico que toma como base as condições históricas para explicar as dinâmicas sociais e interpretar o mundo. Compreende-se, assim, o socialismo como ciência ao situá-lo na realidade, o que explica a crítica marxista à análise metafísica. Esse método procura decifrar as leis históricas e as contradições inerentes do capitalismo, buscando a causa das coisas a partir da experiência histórica. Dessa forma, entende-se que a evolução do conhecimento fornece o embasamento para fundamentar as análises, as quais devem ser feitas sempre através de uma visão do todo. Para compreender o desenvolvimento humano, sua complexidade, seus avanços e retrocessos, é preciso adotar uma perspectiva que analise as condições históricas e, com isso, interprete as transformações pelas quais a sociedade passa constantemente.
                  O método empregado por Marx e Engels pode ser aplicado em uma série de situações da atualidade. Um discurso que ganha muita força é aquele que procura premiar os indivíduos com base em seu mérito e competência própria. Sob uma perspectiva meritocrata, é possível ilustrar o materialismo histórico através de um exemplo prático: um jovem de 20 anos, branco, filho de um promotor de justiça e que sempre teve tudo em abundância na vida e outro jovem de mesma idade, mas nascido na periferia, que trabalha desde pequeno para ajudar a família. Se os dois almejarem um cargo de juiz federal, é evidente que as chances de o primeiro ser bem-sucedido é infinitamente maior que o segundo. Nesse sentido, a meritocracia não pode atribuir ao que tiver maior “dedicação” e “empenho” o merecimento. O materialismo histórico de Marx, nesse contexto, analisaria as condições a que os dois foram submetidos ao longo de suas vidas, assim como as oportunidades a que tiveram acesso. Afinal, situações como essa estão inseridas em condições materiais que determinam a estrutura social e o futuro dos indivíduos, sendo tais condições favoráveis aos detentores dos meios de produção em uma sociedade capitalista.
                  De maneira semelhante, o método do materialismo histórico pode ser aplicado em julgamentos criminais. Um crime não pode, segundo a ideologia de Marx, ser analisado isoladamente, visto que uma série de circunstâncias e aspectos devem ser levados em conta para explicar o ato cometido. As condições históricas que circundam um comportamento desse devem ser apreendidas para que a atitude seja interpretada. Isso deve ser feito não com base na razão, mas no método do materialismo dialético. O modo de produção na sociedade capitalista representa a base da ordem social e se mostra responsável pelas transformações constantes às quais a dinâmica social está submetida. Conclui-se, assim, a possibilidade de se aplicar o método de Marx e Engels em problemáticas atuais, as quais demonstram a presença de leis dinâmicas em constante transformação e a necessidade de analisar os fenômenos a partir dos fatos existentes e das condições históricas.

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