sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Superficialidade procústica automatizada



          Com a emergência da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, constatou-se, não raro, uma organização sistemática e hierarquizada da sociedade. Tal processo fomentou o surgimento de classes antagônicas no que se diz respeito ao capital. Enquanto a burguesia detinha este, o proletariado o almejava (sendo necessária a venda de sua mão de obra). Analogamente às engrenagens de uma fábrica, a sociedade industrial dispunha de certa ordem motriz embasada em preceitos de leviandade, padronização e automação. Assim, entre superficialidade disseminada, sistematização arraigada e robotização crescente, a sociedade industrial instaura-se, sendo de importância fulcral para a propagação do sistema capitalista.
          Na obra “Modernidade Líquida”, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman discorre sobre a progressiva superficialidade e fragmentação das relações humanas, fato que é potencializado pelo incessante imediatismo no qual a sociedade submete-se. Tal atestação finda com uma crise identitária humana, visto que instituições antes sólidas (Igreja, Estado, família, etc) acabam por liquefazerem-se. Antagonicamente à circunstância comprovada por Bauman, o filósofo francês Auguste Comte discorria que as instituições não deveriam ser dissolvidas, e sim solidificadas, servindo como meio para gerar a moral e equilibrar a sociedade industrial, fornecendo a ordem (pressuposto indispensável para o progresso humano).
          No mitologia grega, Procusto fora um homem obcecado pela sistematização, submetendo viajantes à uma cama previamente ajustada. Caso fossem demasiadamente altos, Procusto amputava suas pernas, caso fossem menores que a medida estabelecida, o homem esticava os membros da vítima. Em um contexto hodierno, tal mito simboliza o anseio de padronizar. Comte, ao defender leis invariáveis da sociedade e ao focalizar somente em fatores imediatistas, propicia a disseminação de padrões, fomentando o estabelecimento de ordens estáticas e de arquétipos pré- definidos. 
          Ademais, a obra distópica “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley é crucial para analisar a robotização crescente na qual a contemporaneidade insere-se. Nesta distopia, uma sociedade futurista é hierarquizada, sendo o destino de seus membros definido em laboratório. A felicidade é alcançada com o “soma” e a automação de todos os aspectos existenciais arraiga-se. Analogamente, em uma sociedade na qual a robotização é enaltecida e a ordem é sinônimo de prosperidade, temos a instauração de ideologias fixas, as quais transcendem o questionamento e devastam particularidades.

          Finalmente, a filosofia positiva de Comte, a qual explicita-se como concreta, científica, racional e empírica desvela-se inábil para embasar os preceitos de uma sociedade, uma vez que perpassa as causas primeiras, desdenha as peculiaridades e alicerça suas concepções em moldes. Basicamente, engrandece teorias, desprestigiando a prática. A superficialidade procústica automatizada é pútrida, tal qual a ideologia comtiana.

Isadora Mussi Raviolo - 1º ano Direito Noturno

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