sábado, 12 de agosto de 2017

POSITIVISMO SOCIAL


2014. Rio de Janeiro. Zona Norte. Morro da Congonha.
"Domingo de manhã, saí cedo para comprar pão para minha família. Era um final de semana como outro qualquer. Comumente, a PMRJ já estava subindo o morro, para mais uma operação.
Pedi 10 pãezinhos para o Seu Zé, que separou prontamente, perguntou-me:
- Cacau, como estão as crianças, os sobrinhos e o Alexandre?
- Estão todos bem – respondi com simpatia.
Saí prontamente para casa. No caminho ouvi um estrondo, e senti uma leve falta de ar. Olhei no meu peito e vi sangue. Naquele momento senti um misto de terror, agonia e preocupação. Pensei, o que aconteceria comigo e com a minha família? Seria mais um número nas estatísticas das vítimas de bala perdida no confronto de policiais com traficantes? Caí ali mesmo, ao lado de um matagal. Desfaleci. Escutei vozes, me esforcei para enxergar com a visão turva  três policiais vindo em minha direção. Senti um alívio, pois eles iriam me proteger e zelar pela minha vida.
Carregaram-me até a viatura e por um momento indaguei o motivo de estar no camburão. Saíram em disparada, em altíssima velocidade, passavam em lombadas e buracos como se não estivessem ali. Contorcia-me de dor. De repente a porta do porta-malas abriu e fiquei estirada na via sendo arrastada pela viatura. Essa tortura durou cerca de 300 metros, quando os policiais perceberam, me colocaram de volta no porta-malas. Cheguei ao hospital sem vida. Meu nome: Cláudia Silva Ferreira.
         Agora, olho e reflito o que aconteceu comigo. Percebi que a minha vida não tinha valor, era mais uma mulher negra, trabalhadora, mãe, esposa e moradora de comunidade, vítima do preconceito e da violência no país. Os princípios reguladores da sociedade são repugnantes. Lembro-me do Negro Drama: cabelo crespo, pele escura, ferida, a chaga, à procura da cura. Senti o drama."

Os pilares da racionalidade na sociedade me ajuda a entender esses aspectos preconceituosos. Não importam as causas, mas sim aquilo que é observável, através de relações e generalizações rasas, de estatísticas e correlações. Não se questionam esses resultados, o porquê esses atores sociais são formados, as consequências da desigualdade social. A lei estática na perspectiva Comtiana, traz um alicerce baseado na religião, família, hierarquia, Estado, leis e moral para dogmas enraizados recorrentes em qualquer corpo social. A força vital desse corpo é a meritocracia sendo difundida de acordo com seu agir social, dependente da sua realidade. O Estado dá uma educação tecnicista para os jovens egressos do Ensino Médio já começarem a trabalhar, entretanto as escolas particulares divulgam que as melhores cabeças vão para as melhores universidades. Esses são os elementos que me indago com perplexidade sobre as propriedades fundamentais da proposta positivista fundada século XIX ainda seja utilizada em pleno século XXI.
Sendo assim as mazelas sociais são vistas com espanto, porém são toleradas em todas as esferas. A história da Cláudia foi um exemplo dentre muitos outros. Tudo que não se encaixa para a normalidade, o equilíbrio e coesão do sistema são anormalidades que devem ser exterminadas. Desse modo, ver o pobre preso ou morto já é cultural.


Brunna Aguiar da Silva    1º ano Direito diurno




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