quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O REDUCIONISMO MARXISTA: CONDUTOR DE UTOPIAS E AUTORITARISMOS

     Generalizadamente, a esquerda adota um discurso variável conforme as circunstâncias conjunturais e históricas vividas: a sua subida ao poder é historicamente justificada segundo os meios distintos que se apresentam em cada experiência daquilo que ela mesma chama de “socialismo real”. De fato, por mais díspares que se apresentem seus discursos, o grupo autodenominado como a esquerda de sua época arroga para si- ressalte-se: generalizadamente-, o título de advogado do marxismo como se apresentara na época de seu surgimento. Ora, é certo que a metodologia marxista tem-se aplicado de modos distintos nos grupos distintos que a defendem, porém a mesma guarda essências fundantes de sua existência que se ramifica para os mais variados saberes amalgamando-se àqueles de natureza filosófica, sociológica, antropológica, histórica, jurídica e outras mais. As essencialidades do pensamento marxista devem ser, pois, objeto de apreciação enquanto tais, despidas das interpretações que escolas marxistas quiseram delas fazer especificamente em seus contextos históricos. Com isso, decerto tem-se maior concretude daquilo que seria o pensamento marxista de per si, viabilizando sua interpretação no momento presente. Não se discute aqui a inépcia econômica do socialismo, mas cruamente uma analogia entre a realidade sociológica e as ideias que Friedrich Engels e Karl Marx apresentaram em sua época.
     Inicialmente, parta-se do estudo comparativo efetuado por Engels entre o que ele chama socialismo utópico e socialismo científico. O autor critica os mentores do socialismo após a Revolução Francesa chegando a falar que suas ideias se degeneravam em “puras fantasias”. Engels critica um pensamento metafísico que seria a base dos socialistas utópicos surgindo classificações do autor como “reino da utopia”, “fantasias que hoje parecem provocar risos” e “cúmulo de disparates”. Decerto, pelo que logicamente se conclui, a metodologia marxista estaria, portanto, assentada na objetividade, no realismo e na cientificidade de seu saber, longe de quaisquer utopias. Trata-se de um reducionismo deveras estranho quando se compara a suposta objetividade e realismo com as aplicações feitas dessa sistemática cognominada por si como científica. Não é preciso recorrer às atrocidades genocidas dos soviéticos, dos chineses, vietcongues, cambojanos ou de quaisquer outros países socialistas para constatá-lo. Os governos que antecederam por 13 anos o atual subiram ao poder com promessas, dentre as quais estava a erradicação da pobreza no Brasil. Entretanto, não parece que mergulhar o país em um estado de recessão econômica e desemprego seja das mais científicas e realistas consequências que poderiam ser previstas pelo autor.
       Ademais, não só acerca das utopias criticadas por Engels o marxismo toma para si a bandeira em prol do materialismo. Este tende a se aplicar metodologicamente em tudo quanto seria possível, não sem razão as relações econômicas sejam tão importantes para os autores do marxismo. Isto, acrescente-se, também é genericamente presente nas distintas obras em que o marxismo se expõe enquanto tal. As ideias sobre o sistema de produção capitalista estão presentes desde as análises críticas do Direito em Hegel até o Manifesto do Partido Comunista. Questiona-se: que realismo há em defender o materialismo como única fonte de análise da realidade? O próprio Marx repisa a ideia de que as situações vividas socialmente são fruto da ideologia vigente em sua época. É de se corroborar, assim, a ideia de que Marx estaria tendo suas ideias a partir do sistema vigorante, dado ser assaz fantasioso crê-lo como único desvinculado do sistema em que vivia. E, por óbvio, havia influência das ideologias da época, verifica-se que desde o fim da Idade Média, a humanidade tem tendido filosoficamente para um maior grau de dessacralização do saber, no sentido de que apenas a matéria e a ciência são aceitáveis para a apreciação da realidade. O marxismo tende a se apresentar como ápice desse processo histórico, não acabado, sem dúvida, o nacional-socialismo também mais a frente defenderia a ciência como justificativa para sua existência. Mas o método implícito nas obras de Marx e Engels que se apresenta como uma reafirmação da dialética hegeliana, mas arrogando para si o status de materialista, tende a confluir num exclusivismo nada saudável para se analisar a sociedade e o meio em geral.
       A fixação pela análise da realidade como uma constante dicotomia materialista- a ideia de luta de classes o explicita- faz do método marxista reducionista e autoritário, pois sua aplicação social sempre cairá, de alguma forma, na ideia de grupos que devem ser retirados para se instaurar a ditadura do proletariado. Não é estranho o discurso autocontraditório- pois prega uma situação de união social, mas ressaltando a incompatibilidade entre os entes sociais- constantemente feito pela oposição brasileira de que o país está sendo entregue às “elites”, ao “grande capital”, aos “imperialistas”, aos “fascistas”, aos “poderosos” ou quaisquer outros adjetivos que se possa discricionariamente criar em nome da divisão social. O caso do Direito é emblemático: mesmo Hegel tendo dito que o paradigma do saber jurídico é a liberdade, o marxismo reiterará a ideia de uma dualidade entre uns dominantes e outros dominados, esvaziando, com isso, todo um desenvolver histórico pelo qual o Direito passou e calcou suas bases. E em tudo aquilo em que se tenta assentar o marxismo, os princípios basilares de oposição e materialismo estarão sempre presentes, por mais diverso e prolixo que se demonstre o discurso, como no caso do próprio Direito em que se tenta criticar o caráter especulativo dessa ciência, em outros termos, o seu caráter não materialista.
       É conclusivo salientar: o pensamento metodológico marxista é eminentemente reducionista, exclusivista e fechado. A despeito do discurso que muitos de seus defensores têm de uma suposta abertura ao mundo dos marginalizados, na verdade, seu pensamento é puramente materialista e, portanto, inumano. A crítica marxista à religião classificando-a como “ópio do povo” recrudesce a ojeriza ao pensamento metafísico e o próprio Marx diz “É com razão, pois, que o partido político prático na Alemanha exige a negação da filosofia.”. A conclusão patente será a de que o marxismo reduz a história, o direito, a filosofia e todos os saberes humanos à sua constante dual materialista. Ao dizer-se concreto o socialismo científico tão somente conduz à utopia, em vista de seu reducionismo metodológico que conflui em inaplicabilidade prática. Por fim, vale ressaltar este ponto: a busca pelo socialismo científico, de fato, nunca conduziu ao mesmo sem contrariar fatores da própria natureza humana que devem ser levados em consideração, desde sua espiritualidade à sua objetividade física. A exclusão desse pragmatismo nas análises marxistas é um percalço a se encarar, pois conduz ao autoritarismo, maneira única de se alçar à utopia que o marxismo demonstrara, já que sua análise histórica errou e não conduziu ao comunismo como predizia. Com isso, a única saída para o marxismo seria a retração da ordem nas instituições alcançando seu escopo na força, daí poder concluir-se o descarte dessa forma de pensamento para fins práticos.
      Enfim, vê-se, pois, que nem se elencou aqui as variantes desenvolvidas historicamente- social-democracia, socialismo fabiano, menchevismo, Escola de Frankfurt, Gramsci-, mas tão somente a essência que é intrínseca ao marxismo. A história e o presente são demonstrativos daquilo a que conduz o marxismo: a busca da utopia contra a própria realidade que só se modificaria, então, pelo uso da força. Assim, como se vê, não sem razão os partidos da oposição sentem-se tão atraídos e tão vislumbrados na defesa de regimes ditatoriais.


Gustavo de Oliveira- 1º ano noturno

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