segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O precariado e a função do fato social


Aos 25 anos já acumulava três empregos deixados para trás. Nos dois primeiros foi ultrajada por condições subnormais em ocupações degradantes devido à intensidade colocada dentro das oito horas de trabalho. A formação técnica, os cursos profissionalizantes e até a graduação à distância não fizeram com que, agora, fosse protegida do ingresso à informalidade para complementar – ou suplementar – a renda que, em meses fortuitos, era recebida pelos “bicos” de cerimonialista. Apesar da sensação de tocar a vida com uma má qualidade, assombrada pela insegurança laboral, continua a viver às sombras de um consumismo e de uma saciedade imediata de suas vontades. A idealização do lugar em que deveria ocupar, intangível para ela e para grande parte dos que compõe esse tecido precarizado, é una. A vontade política, amansada por anos de social-democracia representativa e longínqua, petrificou seu âmago de mudança, o qual se traveste de manifestações pitorescas e inaudíveis cunhada no senso comum que grita: “Não há mais alternativas”.
 Precariado. Termo cunhado por Guy Standing, é o nome dado a esse contingente incontável de pessoas, em sua maioria jovens adornados de diversos cursos, especializações, que adentram num mercado trabalho de condições espoliantes e alta carga de serviço, sendo estes, muitas vezes, afrontados em relação aos seus direitos sociais. Seu cerne, em suma, é a condição de frustração frente às respectivas não-realizações que estavam calcadas em seus planos das ideias e planos de vida, sentimento de uma promessa quebrada em relação àquilo que lhes era prometido desde crianças. 
 A proximidade da palavra “precariado” de “proletariado”, e sua própria caracterização, não é mera perfumaria do autor. Como uma ramificação da segunda, o criador da palavra buscou caracterizar um novo momento laboral em ascensão na contemporaneidade que, alheio da dicotomia viciada que explicações marxistas tomaram com o desenrolar do tempo – embate entre burguesia e proletariado –, compreende, em muito, as nuances que essa condição proporciona na camada por ela abarcada. Dentro do espectro de Durkheim, o que se procura abordar, principalmente, é a modificação da função do fato social – nesse caso a nova condição dos trabalhadores adaptada ao mundo atual – através do tempo, sem a perda de sua aparência exterior. Nesse sentido, apesar de analisar a funcionalidade do termo cunhado, vê-se, formalmente, ser aberta a justificativa dialética histórica e transmutada a diversos assuntos da realidade sem o devido pesar. Para quem lê o termo precariado, as causas que o explicam tornam-se adaptadas a um modelo assentado para tornar anômico um corte específico de indivíduos frustrados, ressentidos e já adsorvidos pelos jocosos excessos neoliberais.

Leonardo Henrique de Oliveira Castigioni
1º Ano Direito - Noturno 

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