segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Émile Durkheim em sua obra “As regras do método sociológico” busca a definição de um método e objeto próprio da sociologia, de maneira que esta pudesse se distanciar de um emaranhado de áreas do conhecimento e se consolidasse como ciência por si só.
O que é estabelecido pelo autor como objeto de estudo da sociologia é o fato social, um conceito, que numa explicação de maneira bem sintética, relaciona-se ao conjunto de hábitos e padrões existentes em determinada sociedade e atuam de maneira que são capazes de coagir os indivíduos a este padrão, independentemente da vontade do indivíduo por si só. Tendo isto em mente, utilizo alguns versos de um rap para abordar fatos sociais relativos ao racismo, polícia e violência.
Em “A pior música do ano”, colaboração dos artistas Froid e Djonga, nota-se pontos muito interessantes, a começar pela relação entre a pobreza e a população negra, uma vez que é bem evidente que esta população está sujeitada a pobreza, de maneira indireta, por um conjunto gigantesco de mecanismos.
“Tem uma pá que sai do gueto vem ver onde eu to morando
De manha uma tia preta passeia com um bebê branco
Da onde eu vim a tia veio e só ela me da bom dia
Aqui no prédio eu sou o único de dia
A noite tem o porteiro”
Nos versos acima, cantados por Froid, nota-se que a ascensão social de um homem negro que sai do gueto é contrária ao padrão social existente, o eu lírico constata que o único morador negro é ele mesmo, e que os únicos negros além dele ali presentes são empregados de funções subalternas, uma babá e um porteiro. Além disso, é exposto que os outros moradores brancos não consideram o morador negro como pertencente a aquele espaço, fato evidenciado no verso que Froid diz que a única pessoa ali que o cumprimenta é a babá, também negra.
Além disso, é abordada a questão da violência e da criminalidade na vida dos indivíduos de periferia em vários versos da música, porém um trecho em minha opinião merece muito destaque pois remete diretamente ao debate que ocorreu em sala de aula sobre a questão da violência policial que se assemelha em muito à violência dos próprios criminosos e do fato que a maior parte dos policiais e criminosos são filhos do mesmo estrato social:
“Os garoto quer ser ladrão
Cresce e vira polícia
Nem mudou a profissão
Só o que pedem que você vista!”
É muito interessante observar também a ligação que pode-se fazer desse trecho e da temática abordada com a canção Haiti de Caetano Veloso, sobretudo nos versos a seguir:
“Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados”
Enfim, creio que os trechos das músicas, sobretudo o rap, que narra pela perspectiva do oprimido, sem freios e travas, a realidade social enfrentada por quem é marginalizado, é uma maneira bem real e palpável de se observar os fatos sociais e a maneira que estes existem e atuam privando de diversas maneiras as possibilidades de ascensão dos povos excluídos socialmente, de forma a auxiliar a manutenção do poder pelas elites e manter o status quo da sociedade como um todo.

Leonardo Grigoleto Rosa 1º ano Direito/Noturno

Nenhum comentário:

Postar um comentário