quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Condicionem Daniela Araújo

Áudios são vazados em que uma cantora gospel de sucesso e influência no meio jovem clama, briga e se mostra desesperada por um cigarro de maconha. Fãs e outros religiosos que acompanham o trabalho da artista vão às redes sociais demonstrar indignação e desgosto em relação à situação de Daniela Araújo, a cantora em questão, “Não é uma pessoa digna de representar os jovens evangélicos”, diziam alguns comentários. Paralelamente, muitas outras estrelas do meio artístico que foram foco de atenção internacional devido seus vícios e outros “escândalos” que destoavam do “bom senso” esperado pelo público conservador, hoje se submetem às vontades e comandos da indústria cultural para venderem seus produtos. Este quadro reflete muito bem o tipo de sociedade propostas por Augusto Comte, uma proposta formulada há quase dois séculos, em que a ordem lança bases para se alcançar o progresso, ou seja, somente uma sociedade disciplinada e uniformizada conseguiria proporcionar austeridade ao seu povo.
Entre as bases para uma vivencia coletiva e harmoniosa está a família, enquanto primeira instituição que condiciona o indivíduo ao viver comum, o Estado e a Igreja, enquanto religião e contato imediato com uma filosofia partilhada entre vários, detentora de uma disciplina própria e, invariavelmente, rígida. Daí, tem-se o porquê de tamanha polêmica frente à situação da cantora gospel usuária de maconha, esta era considerada um padrão a ser seguido pelos jovens de um determinado segmento social, seu ato de “rebeldia” frente ao sistema então inserida proporcionou comoção uma vez que exacerbou sua individualidade em relação ao todo, uma evidencia de não amor à sociedade, ou ainda, de não encaixamento na mesma. Entretanto, a ordem positivista não admite tal contravenção, clama por padronização e disciplina e repudia qualquer forma de subversão, tratando-a penalidade racional e objetiva.

Ainda, essa ordem, que parece estar em vigência no mundo, se mostra agente em casos como anteriormente expostos de artistas que reformulam sua conduta para serem mais amplamente aceitos por um público já inserido na lógica positivista. Mas seria essa lógica, essa ordem a mais adequada para a construção de uma sociedade democrática e plural para a convivência de etnias, culturas e opções diversas? Ou seria a base para a estruturação de uma ditadura em que prevalece os ditos “bons costumes” e se valorizam os “homens direitos” sem espaço para mudanças saudáveis ao bem comum, tal qual o voto feminino foi no século XX? Ou então, a mais importante questão, é justo submeter seres dotados de razão e emoções a regras friamente postas visando unicamente o progresso e suas finalidades práticas, sem considerar a subjetividade existente em cada um?
Felipe Cardoso Scandiuzzi - 1ª ano - Direito Matutino  

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