segunda-feira, 14 de agosto de 2017

CARTA DE LIBITINO DILIGEU A AUGUSTO COMTE

Montpellier, 8 de agosto

            Essa carta que vos escrevo retrata o que pode ser o fim de nossa – digo nossa, embora possa ser chamada de vossa – teoria. O positivismo fora alcançado com a descoberta da fórmula do que, na sua época, era chamado de amor – que hoje, é intitulado de Discidt. Não havia vos contado antes o tal êxito positivista, por ocasião, e admito: os louros consequentes do meu sucesso cegaram-me, de tal modo, que não pude, por egoísmo, compartilhá-los convosco, anteriormente.
Voltando após essa breve digressão, o teorema do Discidt fora alcançado a partir do desenvolvimento da física, da engenharia genética e da medicina. Reafirmando a certeza – desculpe a redundância – da priorização das ciências exatas e biológicas em detrimento das humanidades no mundo intelectual universitário. Desenvolvi, pois, um algoritmo que permite mensurar o amor entre as pessoas, sobretudo, os casais. Essa fórmula, absoluta e invariável, por si só e consequentemente, concedeu o desenvolvimento máximo à sua sociologia e à ciência jurídica.
O Direito, fora a ciência que mais conseguimos evoluir e que chegamos – ao menos era o que acreditávamos, até então – ao desenvolvimento máximo. O Discidt teorizado gerou no Direito o que chamamos de má-fé matrimonial, podendo condenar, indistintamente, todas as pessoas que não amam seus cônjuges.
Há, no entanto, algo que não saiu como o planejado, e é por isso que vos convoco a ajudar-me. A sociedade atual é formada, exclusivamente, por casais heterossexuais, uma vez que, a anomalia homossexual fora, com êxito, comprovada e extinguida. Os casais naturais, todavia, começaram a dissolver-se, em função das sanções judiciais movidas em face aos cônjuges que praticavam a má-fé matrimonial supracitada. Eis que, portanto, muitos dos condenados, encarcerados, apresentaram comportamentos homoafetivos e, após a averiguação do índice do Discidt, era positivo o afeto entre aqueles.
Por fim, o que por vós fora tanto pregado e que por mim tão ferreamente primado, entra em paradoxo. A anomalia torna-se normal, assim como, a normalidade torna-se anormal a ponto de subverter e comprometer a ordem positiva. Vós, como expoente máximo da ciência positiva, poderíeis, pois, conservar a mentalidade positivista universal e aqui está o convite.

Atentamente,

Libitino Diligeu

PEDRO CABRINI MARANGONI - noturno

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