sábado, 19 de agosto de 2017

Babel

Quem sou eu? Sou mera consequência das instituições com que tive contato, das tradições que regem a espécie e da vontade do grande ente sociedade? Sou independente, gerador de convicções e vontades que pertencem somente a mim? Existe individualismo, independência, autonomia e vontade? Serão essas apenas construções fictícias para a manutenção e estabilidade da grande colmeia? Seria o indivíduo uma criação da sociedade?
Não sou capaz de responder tais perguntas, se é que há respostas, talvez pelo fato do medo da verdade. Provavelmente sim, tudo seja mentira, tudo seja feito para que pensemos que somos livres e que assim, possamos melhor servir ao todo. Não há como negar a organicidade como as instituições humanas trabalham, a sistematização dos processos e a coerção são quase perfeitas. Somos formigas de um formigueiro, escravos de nós mesmos, estamos presos uns aos outros e cada ato, fenômeno ou ação, provocamos maior fortalecimento dessa prisão invisível.
Dizem que a função do controle, a função do magnífico ente sociedade sobre os indivíduos, está fundamentada na ordem. Garantia de sobrevivência e melhores condições de perpetuação da espécie, segurança e ordem. Dizem que a tentativa de evitar a anomia é o que prende os homens. Tolos. O agrupamento de homens traz constante movimento, e com ele, o caos. Os gregos, como Heráclito, já associavam a ideia de estaticidade à ideia de perfeição, ordem. Os cristãos mantiveram essa concepção em seu deus imutável. O perfeito, o ordinário, provém do estagnado, diferentemente do que acontece nas sociedades. Qual é então o propósito da família, da pólis, do burgo e do Estado? O caos. A transformação, o diferente, o novo, o mutável, essas são as razões do homem em sociedade. Trazer justamente a anomia. Inconscientemente, todos nós (ou conscientemente, a grande mãe sociedade) buscamos, por meio da ordem, provar do caos. Ele é o formador de melhores prospecções, ironicamente, somos controlados pelo que achávamos ser o inimigo, aquele que aprendemos a temer. Novamente a verdade se mostra como amedrontadora, e assim ela o deve ser. O medo mede o caos e ordena anarquia. Quem somos nós? Um eterno pandemônio, um emaranhado de desejos, pecados e muita, muita confusão.  

Rafael Pedro - 1º Direito - Matutino 

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