segunda-feira, 7 de agosto de 2017

A Traição das Visões


"Isto não é um cachimbo".
Foi o necessário para desafiar a percepção geral e plantar uma dúvida na cabeça de milhares de pessoas, entrando para a História como um marco da arte moderna. Apesar de surrealista, uso-me d'A Traição das Imagens do pintor René Magritte para discutir sobre a razão - ressaltando, assim, o caráter paradoxal da obra. Transitando de um René para outro, Magritte e Descartes passam a mesma mensagem: a de questionar tudo, mesmo aquilo que temos como verdades absolutas.
Descartes em O Discurso do Método defende que, em relação aos costumes, os homens possuem o hábito de aceitar opiniões vagas e pouco palpáveis como verdade absoluta, tendo portando sua visão modificada por seu passado cultural. É como se nossas culturas, convicções, crenças e costumes fossem diferentes óculos escuros, os quais aprendemos a colocar e enxergar apenas através de suas lentes desde muito cedo. Com Descartes, aprendemos que não só as imagens são traidoras, os óculos também o são, e somos ensinados a tirá-los e experimentar ver um mundo livre de qualquer pré-conceito, através do processo de remoção que consiste em não acreditar em tudo o que possa gerar uma dúvida, mesmo que mínima.
Francis Bacon também alerta para os perigos da visão parcial ao expor os diferentes tipos de ídolos e suas influências nos mais diversos aspectos da vida das pessoas, contribuindo assim para fomentar um dos principais pilares da Ciência Moderna: a neutralidade como única lente através da qual de pode enxergar a a verdade absoluta e inquestionável.
Portanto, o que um estudioso francês, um barão inglês e um pintor belga deixam de legado à humanidade? A percepção de que o que você vê nem sempre é verdade, e muito menos um cachimbo.

Lara Estrela Balbo Silva
1º ano - Direito - Noturno

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