segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Invasão de Manobra

Os democratas, na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental acerca das cotas raciais, demonstraram sua vontade usufruindo do direito, ferramenta pertencente principalmente à elite dominante a qual fazem parte, tentando manter o status da situação majoritária em questão, que exclui o negro mediante o chamado fascismo do apartheid social, citado por Boaventura. Neste, há uma dicotomia entre o civilizado e o selvagem, itens que podem ser correlacionados com elite branca e negro marginalizado, respectivamente. A multirracialidade é esquecida quando se trata do habismo entre o fenótipo branco e o negro/pardo, o branco então permanece nas posições  superiores da sociedade, enquanto o negro sofre com a subjugação nos mais variados papeis sociais.
Os propositores da ação não obtiveram sucesso, isto pois, no caso das cotas raciais, depreende-se, baseando-se no autor, que existem expectativas sociais que estão acima e para lá das actuais experiências sociais, e que o fosso entre as experiências e as expectativas pode e deve ser vencido, como no caso deste assunto, pois a emancipação social deixou de ser perspectiva oposta à regulação e passou a ser seu "duplo", o que pode ser confirmado pelo fato do próprio Tribunal fazer parte da elite, mas mesmo assim votar contra o interesses dos seus demais componentes.

Portanto, podemos dizer que é possível relacionar direito e a demanda por uma sociedade boa. Mas para isso, é necessário que a sociedade seja vista com os olhos dos que necessitam, mas que muitas vezes são tampados pela posição de massa de manobra, em que não há o questionamento da realidade. E o modo disso acontecer é colocar os negros nos pólos pensantes, as universidades, para que pensem sobre e modifiquem as realidades subalternas, alcançando futuramente um tratamento igualitário. Se isto é possível através das cotas, então que sejam bem-vindas.

Arthur Lopes da Silva Rodrigues - Direito noturno

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