quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Vista Ramones, beba Coca-Cola


Jack Kerouac reviraria-se no túmulo porque, primeiro, enterraram-no vivo e, segundo, toda uma geração de indivíduos malucos, hedonístas e cheios de paixão foi reduzida a uma geração maluca, hedonísta e cheia de paixão. Ao ler rápido, quase não se nota, mas há uma grande diferença entre indivíduos e geração. Enquanto indivíduos, eles compartilham certos valores e crenças, porém há evidentemente uma individualidade, algo capaz de distinguir cada maluco. Agora, enquanto uma geração, a geração Beatnik, eles tornam-se ela, o plural torna-se singular e a imensa heterogeneidade que existe entre os indivíduos tranforma-se numa única massa, um único rótulo. O indivíduo autônomo torna-se uma anedota que já não faz rir, pois não há nada de engraçado na desilusão. Aquele que um dia, ousou sair de casa com sua jaqueta de couro, coturno e moicano, hoje é um esteriótipo. É tristemente irônico como o sistema banaliza aqueles que outrora sonharam em superá-lo mesmo que por um breve suspiro. É irônico, mas não deixa de ser frustante ver uma luta em vão sendo absorvida, pouco a pouco, até acabar na estampa de um camisa de uma loja de departamentos. E essa camisa será comprada e usada, e trará para quem a comprou uma ilusão, sim uma ilusão, mas será satisfatória naquilo em que ela representa, Eu faço parte da tribo dos punks. Porque, no fundo, as ideias são forjadas no âmbito do coletivo para trazer a impressão de que é possível estar com alguém que não seja a si mesmo. Afinal, quando a propagando da Coca-Cola diz, Abra a felicidade, sempre tem alguém com quem compartilhá-la.

 

- Pedro Guilherme Tolvo - Direito Noturno

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