terça-feira, 23 de agosto de 2016

Sobre o materialismo dialético,

"A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes."


Um monstro vive debaixo de sua cama. Um monstro temível, feroz e indomável. Você o conhece, sua existência nunca lhe foi uma dúvida. E, assim como um pescador acostuma-se com o cheiro podrido de peixe, você se acostuma com o monstro debaixo de sua cama.
Isto não significa, nem por um segundo, que ele não te incomode.
A fera arruína cortinas, revira seu quarto, derruba os pratos da cozinha, não o deixa dormir por dias. Você a odeia, mas não imagina uma vida em que ela não exista. O monstro esteve lá desde que você se lembra, nos primórdios de sua infância, destruindo seus brinquedos e te assustando a noite.
Seus pais te culpam por toda infelicidade que o monstro veio a lhe causar. A bronca dura dia e noite, unindo-se com o grunhir do monstro num zumbindo infinito que lhe faz tampar as orelhas em busca de silêncio. Você não discute. Desistiu há anos de convencê-los do monstro. Eles o chamam de louco, brigam pela insolência. Eles não conseguem enxergá-lo, você pensa.
Você obedece seus pais e finge – assim como eles – que o monstro não existe. Mas eles não fingem, certo? Por que o fariam? Você ignora aquela vozinha irritante no fundo de sua mente e aquiesce. Você cresce, um filho exemplar. Você arruma toda a destruição do monstro que, depois de todos esses anos, continua o mais inconveniente possível.
Um amigo visita sua casa. Não lhe era particularmente um bom amigo, mas seus pais desgostavam de suas amizades, então elas lhe eram rara. Elas o fazem distraído, seus pais ralham. NÓS somos seus amigos, eles dizem.
De qualquer forma, seu amigo visita. O porquê não era importante, mas lá estava ele, no seu quarto. No meio da bagunça do dia que você não ainda dera conta de arrumar.
Ele vê o monstro.
Claro como a luz do dia. Na realidade, ele também possui um monstro debaixo de sua própria cama. Todas as crianças possuem, ele comenta plácido. Não é uma surpresa.
O seu chão cai. Mil questões rodeiam sua cabeça.
Mas seus pais o conseguem ver?, você questiona desvairado. Agora, esta criança que se mostrou indiferente ao ver o temível monstro que habita seu quarto carrega um semblante temeroso. Eles fingem que não, ele sussurra, todos os adultos fingem que não.
Você cresce. O monstro nunca saiu debaixo de sua cama e o conhecimento que seus pais sempre o viram não sai de sua cabeça. Você cresce, torna-se um admirável adulto. Você se casa. Você possui um filho.
O monstro de sua cama agora é o da cama dele. O monstro, assim como fez com você, destrói todas as coisas do caminho. Você culpa seu filho, o faz compensar por tudo que o monstro fez.
Você, assim como seus pais, finge que não vê o monstro. Lhe é mais conveniente culpar seu filho, fazê-lo trabalhar por tudo que um dia você trabalhou. Na realidade, você alimenta o monstro, cuida dele. Você não sabe exatamente o porquê. É a ordem natural das coisas. Seu eu criança grita por dentro mas você o ignora. Um dia, você pensa, seu filho irá fazer o mesmo.
Você estava errado.
Seu filho se cansa. Mas, ao contrário de você, ele explode. Seu filho, unido a seus próprios amigos (Você sempre foi mais flexível sobre esta questão, que erro), destrói o monstro de sua casa. Eles destroem os monstros de todas as casas. A criança dentro de você vibra. Eles destroem você.
Você encontra o fim com um sorriso no rosto.
Finalmente,
o recomeço.


Bárbara Jácome Vila Real - 1º Ano do Direito Matutino



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