domingo, 21 de agosto de 2016

Pensamento na lanchonete



Algum tempo atrás fui, com mais dois amigos, a uma lanchonete, pertencente a uma grande franquia internacional, nada que eu não tenha feito antes.
Ao fazer meu pedido notei que o atendente estava cansado, fiquei perguntando-me o quanto ele devia está trabalhando.  É falta de educação falar do salário alheio, mas espero que seja mais aceitável pensar, será que esse funcionário está recebendo hora extra? Pensando melhor será que ele recebe decentemente pela carga horária normal? Caso a resposta fosse negativa seria ruim, mas não uma surpresa.
Alguns pensadores, de caráter marxista, além de relatarem a exploração do trabalhador também questionariam a diferença do salário recebido por ele e do lucro da empresa. Caso não esteja enganado o termo usado “mais-valia”.
Pegamos as bandejas e fomo-nos sentar em uma das poucas mesas que não estavam ocupadas. O hambúrguer estava dentro do esperado, era bom, mas nada de espetacular. Cada mordida era uma ideia diferente, de onde veio àquela carne? Eu já sabia para onde ela estava indo. Poderia ter vindo de uma agro fazenda, com grandes rebanhos e maquinários. Quem sabe viesse de uma fazenda mais rústica, talvez de em uma área desmatada da Amazônia. Os produtores quiseram economizar e não vacinaram o gado? Armazenaram o produto de forma correta? Exageraram no conservante?
Seria mais fácil comer e ir embora, mas o que posso fazer? É mais forte do que eu. A origem e o fim da mercadoria são tão importantes quanto o seu consumo.
Não da para deixar de falar das batatas fritas, 99% óleo, mas aquele 1% esperava que fossem batatas.
As batatas não foram parar por mágica na mesa, alguém teve que plantá-las. Elas poderiam ser importadas ou de um pequeno produtor brasileiro. Esse produtor poderia está vendendo a baixo preço por pressão dos seus clientes ou está em uma cooperativa negociando a preços mais justos. Provavelmente esse produtor não colhe sozinho, deve ter auxílio de funcionários, ele os trata melhor ou pior que os proprietários dessa lanchonete? Elas são transgênicas?
 Passaram-se alguns minutos, tinha esquecido que estava acompanhado de Guilherme e Victor.
Conhecíamo-nos, saíamos, mas agora parando para pensar nunca tinha me perguntado qual a história deles, o que eles nunca contaram?
Deveria existir algum motivo para serem o que são, somos síntese de um contexto. Influenciados por forças que nem sabemos que nos afetam. Apesar desses anos que levamos para sermos moldados nada garante que estaremos aqui amanhã, seremos deteriorados ou quem sabe mudados pelo novo contexto.
A força do capital é impressionante, a mesma que permite a explosão de trabalhadores garante que desfrutemos dessa refeição. Esse espírito molda nossas relações sociais, não sou vidente, mas arrisco dizer que meus amigos tiveram um passado (e quem sabe até um futuro) mais parecido com o meu, do que o atendente, do começo do texto.
Enfim, não tinha muito mais o que fazer quem sabe na próxima pegue um lanche maior para falar mais. Levantamo-nos e fomos embora.

João Pedro Costa Moreira – 1º Ano Direito Noturno

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