segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Falsa autonomia

Emile Durkheim produziu uma imensa obra crítica que apesar de elaborada a mais de um século nunca se torna anacrônica, enquadrando-se mais do que nunca em nosso cotidiano. Ainda assim sua obra sofre de certo preconceito por ser considerada conservadora na medida que diz que a sociedade não existe para garantir o bem estar dos indivíduos,  não segue obrigatoriamente um progresso linear e sim ciclos isolados , eliminada a ideia de que a sociedade é guiada pela revolução e diminui o peso individual das pessoas.  O equívoco está em não entender que ele apenas descreve-a, acreditando que esse é o papel do sociólogo, entender e explicar a realidade de uma sociedade exatamente como é.
Desta forma ele nos mostra que a tendência da sociedade é sempre se conservar e faz isso com o fato social e com a causa eficiente, emanando-se sempre dela própria e nunca do indivíduo. Poucas ações são independentes. O próprio individualismo se cria na moral, na consciência coletiva, sendo o homem independente utópico.
Até o amor, que é considerado um sentimento orgânico, é um fato social. Desde crianças embute-se na educação, através de filmes, livros e tradições a ideia de um dia encontrar um amor verdadeiro. Não encontrando esse sentimento tão disseminado as pessoas tornam-se frustradas, fazendo loucuras em nome deste. Mas o amor nada mais é que uma ideia implantada para justificar outro fato social,  o casamento, e atingir uma causa eficiente: a procriação para conseguir mão de obra. O que chamamos de amor nada mais é que uma boa convivência, um companheirismo, apego. A  influência do coletivo já está embutido em nosso agir e pensar que nem mais é percebido. Qualquer pessoa que viva em contato com outras segue preceitos e regras para se tornar possível a convivência. Quem percebe e tenta fugir dessas regras torna-se isolado.
 O organismo social durkheimiano é tão interligado que se uma instituição deixa de cumprir seu papel desencadeia problemas com toda a coesão, entrando em um estado de anomia. Essa característica é bem explícita na música de Renato Russo  “Mais do mesmo”, além da ausência de autonomia quando diz no trecho “desses vinte anos  nenhum foram feitos para mim” e “Bondade sua me explicar com tanta determinação/ Exatamente o que eu sinto, como penso e como sou/ Eu realmente não sabia que eu pensava assim

https://www.youtube.com/watch?v=rKC2FD046_Y


Letícia Garozi Fiuzo- Direito Noturno

Nenhum comentário:

Postar um comentário