terça-feira, 9 de agosto de 2016

Dos "lobos invisíveis"

Em recente coluna no jornal Folha de São Paulo, o psicanalista Contardo Calligaris abordou a questão dos chamados “lobos solitários”. Trata-se de indivíduos que exauridos pelas pressões impostas pela sociedade e, sobretudo, pelas instituições, rebelam-se de forma violenta contra essas. De acordo com Calligaris, em uma época em que há “extremo controle coletivo sobre o indivíduo, ele se revolta”.
Nesse esteio, a teoria durkheimiana aplica-se diretamente aos casos de “lobos solitários”, ao passo que Émile Durkheim iniciou uma tradição de pensar a sociedade a partir de instituições que abranjam o coletivo e suas implicações na dinâmica de funcionamento da sociedade. Essa relação faz-se inteligível, na medida em que instituições se tornam cada vez mais forças propulsoras do comportamento dos indivíduos, e, concomitantemente, há a difusão de uma ideologia incipiente de individualidade, configurando uma tensão interna, que se deflagra em atos de violências, tais quais os apresentados pelos “lobos invisíveis”.
Geralmente, em atos de violência extrema, a proximidade entre indivíduos é um mecanismo psicológico fundamental para superar o medo para execução de tal, no entanto, os “lobos invisíveis” agem de maneira individual, possivelmente, em resposta, ainda que indiretamente, a coletividade que rege seus comportamentos diuturnamente, uma vez que “o grupo pensa, sente, age diferentemente da maneira de pensar, sentir e agir de seus membros quando isolados”.
 Dessa forma, encontrar o limiar existente entre os anseios individuais e as vontades impostas pela coletividade é passo elementar para se evitar a eclosão de “lobos invisíveis” na nossa cidade, bem como articular uma ótica imbricada entre liberdades e a coerção dos fatos sociais, por mais paradoxal que isso se apresente. 

Paulo Henrique Lacerda - 1º Ano Direito - Diurno.

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