terça-feira, 9 de agosto de 2016

A Corrente Social e o Linchamento Moral

   É fácil, hoje em dia, ligar a televisão e, trocando os canais, ver a seguinte cena: uma viatura, chegando a delegacia, e dezenas de pessoas ao redor gritando palavras de ordem e repúdio. Principalmente em casos famosos de assassinato, sim, aqueles em que a mídia tanto martela e que depois de uns dias caiu no esquecimento. Mas a questão é: quem são essas pessoas que largaram seus empregos, seus lares e foram ali na frente da delegacia demonstrar a sua indignação para com o caso?
Talvez, possamos analisar a situação melhor, partindo da constatação de alguma entrevista dada em um cenário como esse. Imagine só, um cidadão de bem, comum, que paga seus impostos e trabalha de segunda a sábado, acabou de sair do trabalho e está lá, protestando contra a barbárie. Por quê? Poderia perguntar o repórter. "É um caso deplorável, matar o próprio marido e o cortar em pedaços? É desesperador pensar que um ser assim logo estará nas ruas de novo." 
Além de Durkheim, que explica tal coisa pelo fato de que somos levados a realizar ações em massa, através da corrente social, e no caso houve uma comoção pública que o justifica, o psicanalista italiano radicado no Brasil Contardo Calligaris, colunista da folha, nos dá uma visão interessante do fenômeno, a turma do linchamento moral na porta da delegacia, além de movida pela corrente social e instituída assim pelo fato social, demonstra uma necessidade psíquica de se provar melhor que o outro, no caso aquele que é acusado pelo crime. Necessita-se apontar os erros do outro para que se escondam os seus. E o bonde, então, depois de alguns minutos e muitos gritos putos, voltam para casa e entusiasmados contam à família "Liga a televisão, vou aparecer no jornal".

Gustavo Soares Pieroni
Direito Matutino 1ano

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