segunda-feira, 18 de abril de 2016

Tirania Positivista

                Augusto Comte, ao longo de sua vida, dedicou-se incessantemente à criação de uma filosofia positiva, que pregava, através da construção de um conhecimento científico baseado na observação empírica, entender as diversas relações entre os elementos da natureza e da sociedade, para que ocorresse, assim, o avanço pleno da humanidade. No entanto, Comte, embora possua sua importância na comunidade científica e tenha exercido influência em diversas esferas da sociedade, acaba por criar uma teoria repleta de contradições e justificativas para a manutenção de uma ordem social, que servem as necessidades da classe dominante.
                Em sua obra “Curso de Filosofia Positiva”, Comte discursa sobre a chamada Lei dos Três Estados, que regeria a evolução de “todas as ciências e o espírito humano como um todo”. Segundo ele, a humanidade passaria, primeiramente, pelo estágio teológico, em que explicaria os fenômenos do universo através da vontade de agentes sobrenaturais. Seguiria, então, para o estado metafísico, que serviria como fase de transição para o último e perfeito estágio, o positivo. Neste, a meta final seria justificar, através de um único fato geral, todos os fenômenos observáveis. Mas qual seria a diferença entre o primeiro e o terceiro estágio, se ambos depositam todos os “porquês” em uma única fonte? Não seria o estado positivo nada mais que uma volta ao misticismo da teologia, sendo a única diferença entre os dois o portador da tal verdade absoluta? Ao assumir que a ciência seja o estado máximo de perfeição, mesmo que esta já tenha se contradito inúmeras vezes, o positivismo adota uma postura de fé cega tanto quanto ocorre nas religiões. Ademais, esse endeusamento da ciência, na sociedade tecnocrata observada atualmente, impede o questionamento e a subversão, por parte das classes sociais menos favorecidas, da ordem vigente.
                Ordem esta muito defendida pela dita filosofia. Comte profere que “o povo só pode interessar-se essencialmente pelo uso efetivo do poder, onde quer que resida, e não por sua conquista especial”. Logo, sugere que a população não deve almejar uma participação na vida política de sua comunidade, permanecendo, portanto, resignada e submissa às vontades da elite que a explora. O positivismo prega, assim, a manutenção do status quo e a conformidade do proletariado ao seu papel social designado, disfarçadas de “uma sadia apreciação das diversas posições sociais e das necessidades correspondentes”.
                Mas, talvez, o maior exemplo do caráter tirânico e elitista da filosofia proposta por Augusto Comte seja a passagem em que este sugere que a coexistência dos estágios teológico e metafísico sejam responsáveis por uma "anarquia intelectual", que deveria ser corrigida pelo pensamento positivo. Explicita-se, aqui, a intolerância de tal corrente filosófica com a pluralidade de pensamentos, que torna o ato de viver um sem-fim de possibilidades e oportunidades diferentes. Tira-se o que faz do homem agente de seu próprio destino em troca da homogeneização.



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