sábado, 12 de março de 2016

Transição de mentalidades e a dúvida no método de Descartes

Na obra atemporal de Descartes, Discurso do Método, é possível observar que tal autor habita um período de transição do feudalismo para o capitalismo, ou seja, esteve presente num caótico período de troca de mentalidades: feudal (escolástica) para burguesa (racional). Todavia, nesse tempo de crise, mesmo que tenha ocorrido essa transição de mentalidade, não se pode considerar que a Europa se rompeu totalmente das tradições anteriores. Analogamente, Descartes também não.

Descartes não se desprende de Deus em sua obra, tanto que o traz ao centro de sua filosofia, evidenciando que não se desfez totalmente da escolástica. Porém, é fortemente influenciado pelo materialismo burguês, que faz o homem acreditar que é ele quem conduz seus atos e é quem possui a razão, não mais recorrendo a Deus, como fariam os escolásticos. Além disso, Descartes é contra o fundamentalismo religioso, o qual ainda era muito presente em seu período, e a favor do racionalismo presente nas ideias burguesas.

O principal artificio no qual Descartes se baseia na sua obra é a razão, no qual o ser humano conduz-se pelo seu bom senso, sendo extremamente racional, princípio este que personaliza o homem burguês. Tal razão é utilizada para se obter um conhecimento verdadeiro, uma verdade incontestável. Para isso, Descartes formula um método, o qual possui regras, sendo uma delas a da evidencia, a qual se baseia na ideia de que não pode ser aceito como verdade tudo aquilo que de alguma forma possa gerar dúvidas. Assim, é evidente quão importante é a dúvida para se obter uma verdade indiscutível, sendo ela um meio para se chegar ao fim desejado pelo seu método: a certeza. Ou seja, a dúvida é um instrumento da razão.

Em sua obra, Descartes explicita tal afirmação citada acima: “ [...] por desejar então ocupar-me somente com a pesquisa da verdade, pensei que era necessário agir exatamente ao contrário, e rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, a fim de ver se, após isso, não restaria algo em meu crédito, que fosse inteiramente indubitável”.



Gabriel Ferreira dos Santos - 1º ano - Direito/noturno

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